quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O que farei na vida depois da tese...

Todos os dias imagino o que farei depois da tese. Porque vivo intensamente o momento de agora, não quero cair naquele palavreado de “vazio depois da tese”. Tenho mil planos (que se parecem com aquelas promessas de início de ano). Quando entreguei a dissertação, eu fui para o Ceará atrás de meu passado. Queria expurgar alguns gritos insanos. Consegui em partes e vivi dias felizes. A defesa de dissertação era o que menos pensava naquela época. O que ansiava era um acerto de contas com o futuro. Talvez agora vá ser um pouco diferente, mas se me conheço bem vou curtir os dias que antecedem vendo bons filmes, lendo bons livros, inventando uma nova vida.

Planos insano-intelectualóides::::

** Assistir aos mais de 60 filmes que comprei em Paris. Estão todos esperando a Milena pós-tese, como se fosse uma entidade sobrenatural...

*** Ler nesta ordem ou na que mandar o desejo:
* Ulisses, de Joyce;
** Em busca do tempo perdido, de Proust (terminar, pq estou no terceiro volume);
*** Obras escolhidas, de Artaud (tb terminar, porque já li alguns);
**** ... ai ai! Tenho tantos livros para ler! Quero ler uns dez romances antes de qualquer outra coisa. Dos mais fininhos aos mais grossos! Fazer um passeio pelos meus desejos de leitura.

E ler bastante literatura brasileira. Misturar com alguns livros de crítica também brasileira. Outra lista enorme. Os livros que fui colhendo lá no blog do Halem ajudaram a compor esta lista esdrúxula que irei revelando na medida em que for lendo, assim espero! E ainda tem os livros das conversas com a Denise, com o Marcio... Lerei Nelson Rodrigues que o menino sabido de teatro de indicou. E lerei cinco livros da Clarice para me apaixonar outra vez por ela. E aqueles antigos, bem antigos!

E ainda tem a música::: quero pôr os pés para cima e ouvir, ouvir e ouvir.

Vazio de tese? Imagina: a vida está preenchida com novos sempre antigos desejos. Abarrotada.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Casa em preto em branco

Gosto da casa tanto quanto gosto das viagens. E, na verdade, este amor nasceu com as viagens. Jamais gostei de comprar “utilidades domésticas”; foi viajando que me deu vontade de trazer partes das viagens e colocá-las perto de mim. E depois me apeguei também às utilidades. Gosto dos armários com jeito de casa antiga. Da louça branca e da garrafa amarela. Das estantes rústicas e da cadeira rosa entre as pretas. Também os livros e os cds me ajudaram a amar a casa; a fazê-la uma guardiã dos meus afetos, dos meus gostos, das minhas obsessões. Amo a solidão da casa. Um dia morarei em uma sem telefone. E terei tamboretes como os da minha infância. Gosto das coisas simples e também das mais modernosas. Totalmente démodé. E totalmente à vontade. Gosto da casa mesmo sem ter uma casa. E gosto também da idéia de abandoná-la.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Bobices sobre exposições

Vik Muniz no Paço das Artes

A idéia de restos me fascina. Esta aposta de Muniz no insignificante é o que me levou a sua exposição no Paço das Artes (no ano passado). Não há nenhuma singeleza na brincadeira maldosa de usar entulhos, restos de objetos industrializados, para refazer obras de arte. Assim como não havia singeleza nas suas celebridades de chocolate e açúcar. O Narciso de Caravaggio me chama a atenção mais do que todos. Talvez porque eu tenha visto o “próprio” em Roma e vejo-o ali destronado de sua “propriedade”, refeito de parafusos e latarias, mas mantendo intacta a sua beleza. As intervenções em grandes descampados de minas de ferro parecem reter um sentido mais político, mas talvez a decisão de não perder a ironia faça com que os objetos escavados e depois retratados à longa distância, do alto, sejam também insignificantes, desprovidos de simbologia (a chave, o dado, a colher...). Vik Muniz brinca com nossa obssessão pela imagem. Ou com a sua? E gosto muito disso.

Yoko Ono no CCBB

Sem ter visto as performances ao vivo de Yoko, perambulo pelas salas do CCBB para ver a exposição. Embora adore o espaço, sempre certa estranheza de obras expostas em corredores, como se não estivessem no local apropriado. Xícaras quebradas em uma enorme mesa; pregos em pequenos quadros, quadros borrados de tinta, objetos pintados de sangue, objetos para conter água::: esse sentido de coletividade parece muito bonito na arte de Yoko Ono, me comove, mas não me convence. Comove porque me faz pensar em um tempo que não vivi: a geração paz e amor. Apenas uma sala realmente me faz pensar em arte. Aquela em que os objetos estão partidos ao meio. Gosto também das perfomances que vejo em vídeos, sobretudo a que ela, quase impassível, expõe seu corpo à tesoura.

Tatsumi Orimoto no Masp

Difícil não se encantar com este fotógrafo. As perfomances fotografadas – ou as fotografias-performances – têm sempre um objeto que faz o olho parar exatamente ali: nos pneus, nos pães, nos enormes sapatos etc. O fotógrafo parece querer direcionar nosso olhar através do grotesco das situações. No entanto, algo escapa do sentido o tempo inteiro, embora eu não saiba exatamente o quê. Serão os rostos infindamente tristes, de uma beleza melancólica? Sei que não é a relação com a sua mãe nem a repetição das pessoas nas fotografias. Há uma textura íntima nas muitas fotos espalhados no primeiro subsolo do Masp, mas essa intimidade é suavizada pelas cores berrantes; me leva novamente à imagem, ao exagero. Talvez seja isso que escapa. Na relação gosto/não gosto; gostei muito.


Beatriz Milhazes na Galeria Villaça

Nada a dizer diante dos quadros coloridos de Beatriz. Fácil fazer referências e apontar filiações ao tropicalismo, a uma arte genuinamente brasileira e, no entanto, nada que me comova realmente. A parafernália de cores vivas me parece muito bem colocada, como num encaixe que nada está fora do lugar. Serve para papel de parede de algum louco psicodélico (e talvez eu assim pense porque vi sua enorme colagem mal colada na Tate Gallery de Londres). Serve também para cd – aliás um dos últimos da Marisa Monte traz um dos seus trabalhos. Nada contra isso. Ernesto Netto fez a cenografia de um show da Marisa e eu acho-o simplesmente soberbo. Talvez seja resquício de uma visão romântica de arte: sinto um certo incômodo diante de obra tão “alegre”, como se nenhuma dor a trespassasse. Tudo muito pop, como a ignorância descolada de quem observa. Qualquer um reconhece um quadro de Beatriz. Isto também não deveria ser problema. Qualquer um reconhece Van Gogh. E mesmo assim, é o que talvez me incomoda. Este reconhecimento sem conhecimento.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Porto de galinhas “sérpia”*

Uma das minhas paixões é a fotografia. Muito antes da câmera digital, eu já tirava fotos às toneladas. Agora ficou mais fácil. Espero que em breve eu possa comprar uma máquina super poderosa. Enquanto não posso, busco instantâneos com a minha “pé-duro”.

Porto de Galinhas, perto de Recife, é uma das praias mais bonitas que já fui. Embora tivesse muita gente por conta do feriado, o impacto da beleza tira o fôlego. O azul e o verde do mar entre as ondas calmas arrombam um pouco a retina, como diz o Chico Buarque do Rio de Janeiro. Experimentei olhá-la através de outra cor, como a monocromia de uma saudade que adivinhamos sentir antes mesmo de partirmos.

* v. postagem anterior com fotos do carnaval do Recife e Olinda



















sábado, 9 de fevereiro de 2008

Carnaval em Recife e Olinda

Fui bem ali realizar um sonho. Mais um. Fiquei de 28 de janeiro a 06 de fevereiro em Recife, com rápida passagem por João Pessoa. Sempre imaginei ir ao carnaval do Recife mais do que ao de Salvador ou do Rio de Janeiro. O slogan de Recife é algo como “Aqui o carnaval é para todos”. Mesmo que os analistas chatos de plantão possam provar o contrário, o certo é que o carnaval de lá é muito, muito poderoso. Pensava nisso o tempo todo: de como a simbologia reina entre a alegria. Fui com Marie, meu anjo ruivo, e a Nath, que agora estão no Brasil. Fui porque tinha prometido a Marie. Queria fazer parte da viagem delas nem que fosse por pouco tempo. Alberto e Cyane, que nos hospedaram na “ilha das cobras”, mereciam toda uma conversa ao pé do ouvido. É certo que eles vão aparecer por aqui ainda. Ele, porque é um escritor incrível. E ela porque é uma artista plástica de arregalar os olhos. Ambos, porque gosto demais. Ficar na casa deles entre livros, obras de arte e muita gentileza me fez sentir a alegria imensa das redes de carinho que vamos construindo ao redor e pouco a pouco de uma maneira misteriosa e bela.

E por mais que desde ontem pense sobre o que contar, o que priorizar, não encontro palavras. A alegria também é indizível. Contar um sonho é sempre sem graça. A simbologia pertence apenas a quem a vivencia, a quem sonha. Deixo então algumas fotos para suprir a falta de jeito com as palavras, mesmo que agora até as fotos me pareçam pálidas diante do que vivenciei.



As meninas!

As serpentinas em Recife

Os bonecos de Olinda
















O frevo de Silvério Pessoa e as ladeiras de Olinda


A moça no frevo


O velho no maracatu















A beleza de Fernando Anitelli e as ruas de Olinda














As gentes nas ruas e as meninas também!