segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Bobices sobre exposições

Vik Muniz no Paço das Artes

A idéia de restos me fascina. Esta aposta de Muniz no insignificante é o que me levou a sua exposição no Paço das Artes (no ano passado). Não há nenhuma singeleza na brincadeira maldosa de usar entulhos, restos de objetos industrializados, para refazer obras de arte. Assim como não havia singeleza nas suas celebridades de chocolate e açúcar. O Narciso de Caravaggio me chama a atenção mais do que todos. Talvez porque eu tenha visto o “próprio” em Roma e vejo-o ali destronado de sua “propriedade”, refeito de parafusos e latarias, mas mantendo intacta a sua beleza. As intervenções em grandes descampados de minas de ferro parecem reter um sentido mais político, mas talvez a decisão de não perder a ironia faça com que os objetos escavados e depois retratados à longa distância, do alto, sejam também insignificantes, desprovidos de simbologia (a chave, o dado, a colher...). Vik Muniz brinca com nossa obssessão pela imagem. Ou com a sua? E gosto muito disso.

Yoko Ono no CCBB

Sem ter visto as performances ao vivo de Yoko, perambulo pelas salas do CCBB para ver a exposição. Embora adore o espaço, sempre certa estranheza de obras expostas em corredores, como se não estivessem no local apropriado. Xícaras quebradas em uma enorme mesa; pregos em pequenos quadros, quadros borrados de tinta, objetos pintados de sangue, objetos para conter água::: esse sentido de coletividade parece muito bonito na arte de Yoko Ono, me comove, mas não me convence. Comove porque me faz pensar em um tempo que não vivi: a geração paz e amor. Apenas uma sala realmente me faz pensar em arte. Aquela em que os objetos estão partidos ao meio. Gosto também das perfomances que vejo em vídeos, sobretudo a que ela, quase impassível, expõe seu corpo à tesoura.

Tatsumi Orimoto no Masp

Difícil não se encantar com este fotógrafo. As perfomances fotografadas – ou as fotografias-performances – têm sempre um objeto que faz o olho parar exatamente ali: nos pneus, nos pães, nos enormes sapatos etc. O fotógrafo parece querer direcionar nosso olhar através do grotesco das situações. No entanto, algo escapa do sentido o tempo inteiro, embora eu não saiba exatamente o quê. Serão os rostos infindamente tristes, de uma beleza melancólica? Sei que não é a relação com a sua mãe nem a repetição das pessoas nas fotografias. Há uma textura íntima nas muitas fotos espalhados no primeiro subsolo do Masp, mas essa intimidade é suavizada pelas cores berrantes; me leva novamente à imagem, ao exagero. Talvez seja isso que escapa. Na relação gosto/não gosto; gostei muito.


Beatriz Milhazes na Galeria Villaça

Nada a dizer diante dos quadros coloridos de Beatriz. Fácil fazer referências e apontar filiações ao tropicalismo, a uma arte genuinamente brasileira e, no entanto, nada que me comova realmente. A parafernália de cores vivas me parece muito bem colocada, como num encaixe que nada está fora do lugar. Serve para papel de parede de algum louco psicodélico (e talvez eu assim pense porque vi sua enorme colagem mal colada na Tate Gallery de Londres). Serve também para cd – aliás um dos últimos da Marisa Monte traz um dos seus trabalhos. Nada contra isso. Ernesto Netto fez a cenografia de um show da Marisa e eu acho-o simplesmente soberbo. Talvez seja resquício de uma visão romântica de arte: sinto um certo incômodo diante de obra tão “alegre”, como se nenhuma dor a trespassasse. Tudo muito pop, como a ignorância descolada de quem observa. Qualquer um reconhece um quadro de Beatriz. Isto também não deveria ser problema. Qualquer um reconhece Van Gogh. E mesmo assim, é o que talvez me incomoda. Este reconhecimento sem conhecimento.
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4 Palavrinhas:

Olga de Mello disse...

Oi, Milena! Estou tentando linkar seu blog no meu, mas deu um tilt no meu PC. Vamos ver se hoje consigo.
beijo

renata penna disse...

tô aqui cheia de água na boca. essa da Yoko eu morri de vontade de ver. ainda está?

Anônimo disse...

Aprendendo, aprendendo...

i disse...

O Vik Muniz é fantástico! Um dos meus preferidos!