sexta-feira, 28 de março de 2008

Terminei a tese!

Terminei a tese. Enviei-a ontem pelo correio aos professores que estarão na banca de defesa daqui a um mês. Simples assim! Quando se escreve uma tese parece que esta palavra nunca vai chegar: “terminei”. De fato, ao menos para mim, chegou à revelia. Eu queria continuar escrevendo. Ainda tanto a dizer e... tanto a ler para poder dizer. Hoje, ainda muito cansada, veio-me a lembrança de tudo. Quando disse que esta tese me deu muito, não estava brincando. Creio que vivi, nos últimos quatro anos, os mais felizes da minha vida. E olha que não acho que minha vida tem sido ruim há pelo menos dez anos! Nada do que eu poderia ter hoje devido ao meu emprego – que me pagava quase três vezes mais do que ganho com a bolsa de doutorado – poderia se comparar a todas as experiências que me dei durante este tempo. Eu sinto como se tivesse sido um grande mergulho em tudo que me espanta, me comove, me leva adiante, me tira do comezinho da vida. Não apenas o ano em Paris, nem as tarde na Biblioteca Nacional Miterrand, mas o tempo em Rio Preto, onde conheci pessoas maravilhosas, o tempo em Campinas onde vi milhares de filmes, o tempo em Sampa onde vive o amado e agora vivemos. Dei-me o direito de vivenciar tudo que apenas pressentia – as peças de teatro (minhas longas incursões ao subúrbio de Paris para acompanhar o Ano Beckett; os muitos shows, teatro, dança de Sampa). Se pudesse, viveria estes quatro anos por todo o resto da minha vida... E, no entanto, sei que a vida tem que continuar, ir mais adiante, avante. Estou pronta, como sempre estive para a vida!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ultima semana de tese

(considerem que meu computa francês não possui alguns acentos)

Estou na minha ultima semana de tese. Imaginem uma "moça" sentada dia e noite tentando alcançar o que não alcançou em quatro anos. Pode parecer dolorido, mas não o é. Não para mim. Tem algo de dionisiaco nos meus gestos - uma alegria irresponsavel por tudo que esta tese me deu. Eu acho que ganhei muito. Muito mais do que estou sendo capaz de transformar em escrita. O que eu penso mesmo da minha vida é que a cada dia tenho aprendido a vivê-la melhor, cumprindo a minha promessa feita ha tantos anos. Hoje, enquanto carregava a minha impressora pesada no metrô porque ela resolveu não funcionar mais, fiquei pensando que o fato de eu me autodenominar "não mais cristã", advenha do fato que me recuso a sentir culpas. Recuso-me a todas estas leis cristãs que nos dizem tão descaradamente que devemos padecer aqui na terra; Eu não quero padecer, porque tenho ca pra mim que todo padecimento - dadas as boas condições em que vivo - seriam meros muxoxos que so serviriam para alimentar meu ego que se julgaria preocupado com o que os "simples mortais" não se preocupam. Eu me preocupo bastante, eu choro bastante, eu devaneio muito, eu me enfezo mais do que percebem normalmente, mas trago em mim um profundo amor pelo insignificante, pelo contentamento, pela euforia. Eu faço questão de não me levar a sério - e acho muito chatas as pessoas que se levam totalmente a sério. Tenho fascinio pelos loucos, pelos degredados filhos de Eva... Sou capaz de morrer defendendo quem não tem nenhuma razão. O que gosto mesmo é de ver a loucura transbordando nas palavras, nos gestos, nos minimos rumores, nos maximos humores; e é por isso que escrevo minha tese sobre Derrida. Não vou falar aqui de Derrida - do não lido e do não compreendido Derrida. Vou dizer apenas que o adoro - inclusive o que não entendo. O que me fascina é minha aventura pessoal por isto que não é de todo compreensivel. Odeio textos faceis demais, que não mexem com meus brios, que não me deixam nervosamente enfeitiçada! Se me pedirem uma unica razão porque faço o que faço, direi: porque nunca soube onde isso iria dar. E ainda agora não sei.

segunda-feira, 17 de março de 2008

recordações de chuva


amo o cheiro da chuva. e o barulho da chuva que agora ouço na janela à falta de um teto. sinto o cheiro da infância quando esperávamos por ela. meu pai mais do que eu. porque rara, a visão de muita água escorrendo é uma das poucas alegrias daquele tempo. tantos relâmpagos, tantos trovões ecoam daquela época. e sinto também em mim a chuva da tempestade; o vento zumbindo enquanto uma proteção grotesca impede que corpos se molhem. era tudo tão quente... os pássaros voavam na chuva. nenhuma chuva foi tão linda como esta em que os pássaros corriam e eu corria tentando alcançar seus vôos. pessoas também correm da chuva na praça da Comédie Française enquanto mastigo despreocupadamente um sanduíche. depois as fotografo e guardo a moça levantando a saia. lembro da lágrima no metrô que protege da chuva, mas não do frio. penso também em mim subindo o elevador transparente do Rainha Sofia enquanto vejo o moço parado sem medo da chuva. tantas lágrimas me molharam naquelas noites. vejo as ruas todas molhadas e meu guarda-chuva voando em direção a um carro. um homem sorri sem graça enquanto eu caio na gargalhada e deixo meus poucos cabelos se molharem. protagonizaria ali uma dança na chuva se o guarda-chuva não tivesse voado para longe. prego meu nariz na vidraça e deixo-o por lá. quero guardar também esta lembrança. do meu nariz pregado na vidraça e da lágrima de alguma saudade já passada. é tudo tão morno nas minhas lembranças de chuva. tantos pingos na vidraça. lembro do poema de um amigo. assim como lembrarei desta chuva que agora vejo.

terça-feira, 4 de março de 2008

Mari dôtora e Ana fêssora


Dias de alegria vinda dos outros. Alegria tamanha.

Mari defendeu o doutorado. Agora é doutora em Lingüística. Lagrimazinhas de emoção vieram fácil. Mari protagoniza sonhos como uma formiguinha; escava aqui e ali sempre com presteza, sempre com certeza que o caminho é este. Deve ter sido um dos momentos mais felizes da vida dela, senão o mais feliz. Eu e ela somos amigas há mais de 14 anos. Fizemos o curso de Letras juntas – e depois seguimos trilhando sonhos mundo afora. Viemos parar aqui em Sampa. Mestrado; doutorado, Paris, Sampa; cada uma na sua área. Somos a prova viva que a Lingüística e a Literatura podem se dar bem! E que as diferenças podem se amar (e brigarem muito tamém!).

E minha flor Ana agora é professora da USP. A danada chegou lá, de onde nunca saiu, porque já estudava lá. Eu fiquei numa alegria daquelas. Eu e Ana nos conhecemos em Paris. Morávamos no mesmo andar da Casa do Brasil – e ela foi a primeira a me dar dicas (valiosíssimas) de sobrevivência. Ela tem um astral incrível, sorriso largo e o “mili” mais gostoso que já ouvi. E tem algo nela muito parecido comigo: ela é dengosa. Tenho sempre a impressão que gostamos de nos ver porque fazemos muito dengo uma na outra como duas crianças felizes de terem se encontrado.

Parabéns para as duas (que não lêem este blog porque acham que é coisa de gente desocupada - e narcisista!!)

Fotinha: eu e as meninas by amado.