segunda-feira, 17 de março de 2008

recordações de chuva


amo o cheiro da chuva. e o barulho da chuva que agora ouço na janela à falta de um teto. sinto o cheiro da infância quando esperávamos por ela. meu pai mais do que eu. porque rara, a visão de muita água escorrendo é uma das poucas alegrias daquele tempo. tantos relâmpagos, tantos trovões ecoam daquela época. e sinto também em mim a chuva da tempestade; o vento zumbindo enquanto uma proteção grotesca impede que corpos se molhem. era tudo tão quente... os pássaros voavam na chuva. nenhuma chuva foi tão linda como esta em que os pássaros corriam e eu corria tentando alcançar seus vôos. pessoas também correm da chuva na praça da Comédie Française enquanto mastigo despreocupadamente um sanduíche. depois as fotografo e guardo a moça levantando a saia. lembro da lágrima no metrô que protege da chuva, mas não do frio. penso também em mim subindo o elevador transparente do Rainha Sofia enquanto vejo o moço parado sem medo da chuva. tantas lágrimas me molharam naquelas noites. vejo as ruas todas molhadas e meu guarda-chuva voando em direção a um carro. um homem sorri sem graça enquanto eu caio na gargalhada e deixo meus poucos cabelos se molharem. protagonizaria ali uma dança na chuva se o guarda-chuva não tivesse voado para longe. prego meu nariz na vidraça e deixo-o por lá. quero guardar também esta lembrança. do meu nariz pregado na vidraça e da lágrima de alguma saudade já passada. é tudo tão morno nas minhas lembranças de chuva. tantos pingos na vidraça. lembro do poema de um amigo. assim como lembrarei desta chuva que agora vejo.
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