quinta-feira, 24 de abril de 2008

Meu pai vem

Meu pai vem para minha defesa de doutorado. Meu pai não entende de defesa nem de doutorado. Ele sabe que estudo, mas talvez nunca tenha parado para pensar porque estudo há tanto tempo. Sabe que vou ser “doutora”, mas não entende para que serve ser doutora em Letras. Nunca falamos sobre isto. Sei que ele sabe que serei doutora porque da última vez que estive com ele, na pequena cidade onde mora, que é a mesma onde cresci, me deixei levar mansamente pelo seu braço enquanto ele ia me mostrando às pessoas e dizendo que eu ia ser doutora e que estava indo para a França. Repetia isso a um e a outro: para o dono do boteco onde bebe suas biritas quando pode, para a mulher cheia de anéis do supermercado onde pendura a conta todo mês, para seu compadre que estava na calçada, para seu amigo mouco e para tantos outros que agora já não lembro. E o fez com um misto de orgulho, humildade e alegria. Eu me deixei levar em estado de mansidão tendo em mim o mesmo sentimento indefinível, não por mim, mas por aquele homem que me ensinou desde cedo o que é ternura. O que nos levava àquele dia nada mais era do que o estado de confiança e amor que sempre tivemos um pelo outro. Ele não acha que precise saber o que é doutorado em Letras, basta-lhe saber que é importante para mim; e isto é uma grande forma de confiança; basta que eu lhe diga que é importante para que ele me leve pelo braço, como a dizer: “Eis a minha pequena, ela faz o que não sei o que é e vai para onde não sei onde, e me diz que é bom, e nela acredito e por isso vos digo”. Quando lhe telefonei de Paris, em uma daquelas noites frias de delicadeza, ele me perguntou se lá votavam em Lula. E eu lhe expliquei que não – que lá o presidente seria um homem que não era bom como Lula. Meu pai nunca votou na direita e me disse uma vez que Lula era um homem bom. Por isso, perdoei a mim mesma de tal excesso de maniqueísmo. Ele é um homem que sonha e tem muitos mundos dentro de si. Cresci vendo-o falar sozinho. Quando criança não entendia por que muitas vezes ouvia minha mãe ou minhas irmãs mandando-o parar. Mas é certo que em algum momento desconfiei que não era todo pai que falava sozinho, mas aí já tinha aprendido sua lição: também passei a falar sozinha. Entretanto, sem a sua mesma coragem, aprendi a não mexer os lábios quando inventava histórias dentro de mim. A sua linguagem, até hoje invejada por mim, embora eu saiba que não serve para as demandas práticas da vida, nunca o abandonou e e é com ela que ele se diz aos bichos, às plantas e também aos homens. Suas frases esparsas pedem ouvidos meigos. Noite destas sonhei que ele era uma borboleta. O sonho me pareceu bem apropriado. Meu pai sempre cheirou suas flores, ninou-as, abraçou-as, dançou com elas e, quando uma única vez bateu em uma delas, pediu perdão com choro sentido. Desde agora faço planos de levá-lo ao cinema, ao Masp, andar com ele pela Sé, pelo parque. E mesmo se nada disso for feito, sei desde agora o que ele vai contar aos seus amigos quando voltar para casa: “Vi tanta coisa bonita...”. Pois os olhos do meu pai, embora turvados às vezes pela dor da vida, vêem tudo bonito.
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Foto: minha sobrinha, meu pai e Lelê, minha irmãzinha.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O canto que vem do frio

No fim de semana que passou, eu, o amado e AnaFlor fomos ao show de Vitor Ramil e Marcos Suzano, lançamento do cd dos dois, Satolep Sambatow. Suzano dispensa apresentações. Sua percussão, que ficou conhecida pelo pandeiro, e hoje flerta com o eletrônico, é famosa. Suas parcerias dão sempre o que falar. Eu adoro o Olho de peixe, com Lenine. Já Vitor Ramil é menos conhecido, mas não menos talentoso. Ele é um compositor de primeira. E vem do frio, de Pelotas, no Rio Grande do sul. Desenvolve a estética do frio, como ele denominou o título de seu livro. Sua música, então, nada tem a ver com a “festividade” do verão: é intimista, cheia de imagens surreais. Desde que o ouvi, lembra-me qualquer coisa de cancioneiro. Um homem contando e cantando a nostalgia com uma força poética incrível: as letras são muito poderosas e trazem mesmo esta estética da solidão, um certo modo nostálgico envolvido em mistério; a semântica nunca é exata, transfigurando-se sempre em alguma imagem indefinida, como se a cada objeto, seja pessoa, seja sentimento, seja lugar, fosse dado um outro sentido, um outro lugar. Ainda não posso falar muito. Tenho apenas um dos seus cds: o Tambong. E ouvi há muito tempo Longes e Ramilonga. Foram estes que me fizeram ir ao show. Minha parca memória guardou-os como um momento de pura beleza. O amado depois me disse que a voz dele parece com a de Caetano. Parece mesmo, o que não é demérito, nem mérito. Ramil tem um estilo que é dele, que vem das suas belas letras acompanhadas pela busca da melodia perfeita ou da palavra exata. Vi que ele tem uma paixão por Bob Dylan. E pelos poetas, colocando-os lado a lado da sua poesia. Em Tambong, tem uma versão de Gotta serve somebody e, no show, ele cantou Joquim, que está em outro cd e é uma versão de Joey. Musicou também o belo poema de Paulo Leminski que me me arrepia cada vez que a ouço:
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Desta vez não vai ter neve
como em Petrogrado aquele
dia. O céu vai estar limpo e o
sol brilhando. Você dormindo
e eu sonhando.
**********
Nem casacos nem cossacos como
em Petrogrado aquele dia.
Apenas você nua e eu como nasci.
Eu dormindo e você sonhando.
**********
Não vai mais ter multidões gritando
como em Petrogrado aquele dia.
Silêncio nos dois murmúrios azuis.
Eu e você dormindo e sonhando.
**********
Nunca mais vai ter um dia como em
Petrogrado aquele dia. Nada como um
dia indo atras de outro vindo. Você e eu
sonhando e dormindo.

Ramil está bem acompanhado. Seja pelo parceiro de agora, Suzano; seja por Katia B, que participa do novo disco e cantou no show; seja pelos poetas que lhe acompanham; e pelos músicos também, ele é mais um tesouro da música brasileira. Pena que tão pouco conhecido por estas bandas! Alguns momentos com letras de Tambong:
















Vou andei. E me chegando assim te cercarei.
Digo, aqui tô eu. Que te amo e às tuas pernas quero bem.
...
E tudo isso foi no mês que vem.
Foi quando eu chegar. Foi na hora em que eu te vi. (Foi no mês que vem)
















Pintei de verde a grama em dia claro.
De verde forte e falso e vivo e raro.
Que seja a grama brutal. Se eu quero a cena ideal (Grama verde)



As imagens descem como folhas. No chão da sala. Folhas que o luar acende. Folhas que o vento espalha. Eu plantado no alto em mim. (A ilusão da casa)

















Quarto de não dormir
Sala de não estar
Porta de não abrir
Pátio de sufocar (Espaço)



Dia de sair. Ir naquela idéia radical. Tudo o mesmo, nada sendo igual. Tudo pra valer.

















Estrela, estrela. Como ser assim.
Tão só. Tão só. E nunca sofrer.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Este lado do paraíso, de F. Scott Fitzgerald

Nem Proust, nem Artaud... o livro que comecei a ler já no momento em que a tese era imprimida foi Este lado do paraíso, de F. Scott Fitzgerald. Eu sempre tive curiosidade pela literatura norte-americana, mas nunca a li realmente. Eu leio – e gosto muito de – Faulkner, mas em geral tenho uma certa resistência que acompanha a curiosidade. Explico melhor: eu deveria ter lido a literatura norte-americana antes; agora, quando meu gosto vai cada vez mais para escritores como Artaud, Kafka, Beckett, Bernhard, fica difícil me prender. Faulkner não me parece com nada e tem a “dificuldade” exata que me prende a um livro. Acho que ele é um hiato na linguagem direta, quase jornalística da literatura norte-americana. Talvez por essas razões, não caí de amores pelo livro de Fitzgerald, embora eu reconheça uma maestria enorme na construção dos diálogos e na descrição dos acontecimentos, exatamente devido à linguagem exata – uma linguagem que diz. É a forma direta que me exaspera um pouco. Tenho a nítida sensação de estar vendo um filme de Hollywood, daqueles que nos prende pelo enredo, pela perfeição técnica, mas que não é nada mais do que isto. O grande Gatsby, que inspirou o filme de Jack Clayton com Robert Redford, é do Fitzgerald, e quem o assistiu talvez entenda melhor o que quero dizer.

Este lado narra a vida do jovem estudante Amory Blaine, em seus anos de formação e, segundo dizem, é largamente “autobiográfico”. A partir disso, temos um retrato irônico e desencantado do modo de vida dos jovens no início dos anos 20 e do sistema universitario norte-americano. Amory é brilhante, tem autoconfiança na mesma medida da arrogância e da prepotência – e é na construção desta figura que reside todos os méritos do livro. A atmosfera superficial e as personalidades de certo modo degeneradas dos seus colegas servem tão-somente de contraponto para a construção da imagem do jovem Amory: ela mesma é também degenerada, mas dotada de fascínio, de resistência e superioridade suficientes para dar a entender que ele sobreviverá a si mesmo, ao ambiente que o constitui, apesar da sua repulsa a este, e aos fatos. É a narrativa de uma passagem iniciática, largamente construída para ser mítica, na medida em que é possível uma construção mítica calcada na ironia, no desencanto, no tom superficial que cobre tudo.
É isto: posso falar sobre o livro, dizer que é muito bom, afirmar que Fitzgerald é um dos maiores escritores da sua geração sobretudo porque soube representá-la como ninguém, mas é apenas isto que posso fazer. Fica me faltando a emoção, o entusiasmo de leitora.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Teresa Cristina e Miriam Maria no fim de semana


Estas fotos são do show da Teresa Cristina, a sambista carioca que há dez anos começou tocando nos bares da Lapa. Isto é, antes desta moda toda de samba que tem produzido muita bobagem com vistas a ser samba sem de fato sê-lo. Faz uns três anos que ouvi falar da Teresa, mas só agora tive a oportunidade de ir a um show. E que show! Ela toca com o grupo Semente, composto de sambistas de todas as idades. A harmonia é total e, embora sua personalidade tímida não permita nenhuma explosão, é uma lindeza ouvir voz tão bela cantando grandes nomes do samba, além de suas próprias composições, com tanta delicadeza e tanta alegria.

A moçada no Sesc Pompéia prestigiando... Lotado, apesar de ter sido no mesmo dia do show do Ozzy Osborne que congestionou Sampa.

Eu tiete! Não basta ouvir, tem que comprar cd e pedir autografo...rs.

***

E não tirei fotos da Miriam Maria, porque eles pediram para não tirar, mas o show foi de lágrimas nos olhos, uma vez que, na verdade, é uma performance com letras do Itamar Assumpção – que adoro com veneração – musicadas por Sérgio Molina, de quem comprei uns cds que ainda estou me decidindo o que pensar. A performance chama-se Sem pensar, nem pensar e ainda está rolando no Sesc da Av. Paulista. Miriam tem um cd belíssimo chamado Rosa fervida em mel que sempre escuto. A cada vez que ouço Reza, de Paulo Leminksi e Zeca Baleiro, na sua interpretação, um mundo inteiro passa por mim.

Foto de divulgação: http://www.brazilbizz.com.br/sergio_molina_miriam_maria.asp

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sobre Clarice Lispector ou sobre o que senti ao lê-la


Fazia tanto tempo que não lia Clarice! Houve um tempo que eu tinha a meta de ler todos os livros de Clarice, Saramago e Graciliano. Desinteressei-me dos dois primeiros sem bem saber por quê! E eis-me lendo outra vez Clarice. Culpa da Dê que a estuda... Pois eu li, e lendo, ri e chorei no meio da noite fria. Não qualquer riso, mas aquele alto que me fez ter medo de acordar a minha amiga que estava no quarto ao lado. Nem qualquer choro; mas aquele em que as lágrimas caem doídas. Como é perversa a Clarice! Lembrei porque a amava tanto; e foi todo meu corpo que lembrou. E voltei a amá-la com devoção, sentindo pena de mim por tê-la abandonado tão prematuramente. Clarice é uma escritora que não se deve abandonar nunca. Senti-me traída por mim mesma, por minha falta de perseverança, por meu pouco trato com as imagens; as imagens que tanto amo na Clarice. Mas, lendo-a, sei por que a abandonei: porque é um horror ter Clarice por perto; sua inteligência, sua perspicácia, sua ironia, sua fragilidade aterradoramente difícil! E fico como ela: exasperada, zangada, com vontade de dizer impropérios que jamais direi porque nunca os diria com a sua mesma elegância. Como Dê a suporta? Não sei. Eu não a suporto. Não tenho forças. É preciso ter muita fibra para carregá-la junto ao peito, para tê-la como livro de cabeceira. Vem-me aquela manhã em que Hélène Cixous a colocou tão tranquilamente no meio de monstros como Proust. Hélène a suporta. Sim! Ela suporta o silêncio, o dedo em riste tão delicado de Clarice. Talvez seja por isto que ela suportava e amava Derrida. Estou convencida que foi Clarice quem lhe deu forças. Já estou em delírio. Clarice me deixa cansada. Fico com medo de começar a achar a vida besta demais. Então vou deixá-la um pouco mais, ali, morta na estante, à espera da minha coragem. Uma próxima vez. E quem tem coragem de perfurar a própria carne? Clarice o tinha. Eu, receio. Não quero descobrir nada. Ah, tão óbvio assim, e não quero ouvir. Nem Clarice pode me dizer coisas óbvias. E ela não as diria. Ela diz as coisas mais profundas revestidas de obviedades, pois é certo que não acreditava na obviedade nem na profundidade. Eu não acredito também. Mas não sou Clarice. Nem suportaria sê-lo.
** Fotos tiradas do catálogo da exposição dedicada a Clarice no Museu da Língua Portuguesa, em 2007.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Não estou lá, o filme

Não estou lá, de Todd Haynes, é um filme desconcertante, muito desconcertante. É o mínimo que posso dizer diante da bateria de imagens e sons a que fui submetida durante mais de duas horas. O filme é tanto sobre imagens e sons quanto sobre Bob Dylan. O que é o mesmo que dizer que, indiretamente, é também sobre cinema (ou o que ainda pode fazer o cinema). E parece-me que a resposta é que o cinema ainda pode muito. O filósofo Derrida, em um dos seus livros, diz que em toda autobiografia reside uma máscara e, encenando uma outra ponta desta tese, afirma que a ruína está intrínseca à idéia do auto-retrato. Podemos estender isto às biografias: o escritor, ou diretor, como um outro, tenta captar um “eu” na arriscada empreitada de montar um retrato. Encenando a cinebiografia de Dylan através de seis personagens diferentes, com registros e em tempos diferentes, Todd Haynes arrisca-se à montagem, mas sem nenhuma síntese. Todo eu que surge é já um outro; é já a morte anunciada de um para que outro surja; são máscaras que se desfazem a caminho da ruína. Não à toa uma das personas de Dylan é Rimbaud, e a famosa frase do poeta - “o eu é um outro” - aparece sendo recitada pela esposa francesa de um dos personas do músico. O diretor faz que aqui Dylan seja vários outros, evocando-os não apenas como heterônimos (nem mesmo seu nome aparece!), mas como sucessivos “eus” que ressuscitam (a associação com Cristo é mesmo explícita) à revelia do esperado, do já conceitualmente manifestado. A transformação de Cate Blanchett na composição da sua personagem é fantástica, mas creio que é o conjunto, e não apenas a performance da atriz, que compõe o quadro espantador. A sua aparência, a única próxima a do músico, é uma parte do todo, em que tudo é pensado para nos remeter e ao mesmo tempo nos levar para longe da figura de Dylan. São e não são Dylan na mesma proporção todas as outras personagens, desde o garoto negro com modos de adulto até um Richard Gere travestido em Billy the Kid em uma cidade onírica (incríveis estas cenas!). E tem Rimbaud numa sala de julgamento, assim como um ator sofrido devido à falta de gerência da própria vida que é nada mais nada menos que o ator Heater Ledger que morreu recentemente por excesso de barbitúricos. Pouquíssimas vezes o cinema consegue este equilíbrio tão assustador entre o real e o não-real; a verdade e a ficção. Em duas palavras, simplesmente soberbo. E a trilha musical? Valha-me!!!


Ainda três coisas:

* quando falei para meu orientador que tinha ido ver Bob Dylan em Bruxelas, ele me escreveu bem humorado: “E Bob Dylan ainda está vivo?”. Pois é! Que maravilha Dylan ainda vivo dando-nos o privilégio de conhecer a sua música e sem jamais podermos ter a síntese da sua vida.

** Já ouviram Modern Times, seu último cd? Pois ouçam. Bom demais.

*** As fotos daqui não são do filme, mas do catálogo do show dele que vi em Bruxelas. Preferi colocá-las ao invés das que estão na net para divulgação. Quem tiver curiosidade de ver fotos do filme, é só clicar em qualquer comentário sobre o filme.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A “música popular planetária” de Lenine

Vamos ver se agora, depois da “ditacuja”, escreverei um pouco mais para além do meu umbigo ou ao menos que este umbigo se estenda a assuntos que possam interessar a meus três ou quatro leitores. Tentemos, pois!

Neste fim de semana, eu e o amado fomos ao show do Lenine. É a segunda vez que o vejo neste ano. A primeira foi no carnaval de Recife. Não é nenhuma novidade que acho Lenine, senão o melhor músico de nossos tempos, um dos mais inventivos e coerentes com a sua trajetória, que se mantém entre a cultura popular, pop, com veia roqueira, eletroacústica e mpbística. Nesta (in)definição, já sopram os ares da inquietação – marca forte deste pernambucano que deu um baque solto nos nossos ouvidos já em 1983, quando eu ainda nem tinha entrado na adolescência e só sabia que música era aquilo que tocava no radinho das minhas irmãs. Foi com olho de peixe, parceria inspiradíssima com Marcos Suzano, de 1993, que, a meu ver, todo o talento de Lenine se expandiu e não mais o abandonou. O último pôr do sol e Leão do Norte são músicas que me fazem perder o tino; a primeira com uma veia mais romântica e a outra ligada às suas raízes. Para mim, ele caminha no intervalo destas duas veias: olho no de dentro e olho no de fora, fazendo um caldo com os sons de lá e os sons do mundo (o que ele denominou acertadamente de “música popular planetária”). Foi assim em O dia em que faremos contato, de 1997 (para mim, sua obra-prima!) e com Na pressão! (1999)... Pois me sinto assim quando ouço este menestrel, dado às vezes a letras de canções enormes que narram histórias de nossos ancestrais e nossas histórias: NA PRESSÃO... Depois de Falange canibal (2002), se não me engano, ele fez apenas cds ao vivo, incluindo uma ou outra música inédita, mas estas e até mesmo as não-inéditas (com arranjos novos maravilhosos!) valem cada investida na sonzeira musical que vem da sua inquietação! O belo in cité (2005) tem a música carro-chefe do ano do Brasil na França em parceria com Lula Queiroga. Chama-se Sob o mesmo céu e, para mim, consegue como nenhuma outra firmar o lugar do Brasil na onda-planetária-nada-afeita-aos-estereótipos que mais parece uma ponte e que lhe é tão cara!

Deve ser o quinto show que vou. E a cada vez sinto que minha paixão por ele sai revigorada. Vida longa ao Lenine!

Outras fotos do show: