terça-feira, 6 de janeiro de 2009

sempre as horas

achei que em janeiro estaria em paris. muito do que achei no ano passado não aconteceu. talvez aí resida a beleza::: no transtorno fundante da vida. neste emaranhado de surpresas e acasos. casos. não estou em paris. talvez porque o medo do outro seja o que mais interrompa o amor. eu me imaginei lá espectadora de um amor. porque o amor tem muitas faces. eu amaria os dois. e seria amada por eles. e o amor deles hoje se faz de outra forma, percorre outros caminhos. perdemos paris a três. porém, não temos paris, mas temos a nossa história. os nossos dias. as nossas horas. como eu disse a ela: "isto é nosso. ninguém mais nos rouba". e choramos agarradas - na rede vermelha. e é assim que agora estou aqui em porto do velho. por caminhos misteriosos, 2008 foi o ano de ficar mais próxima da família, de aprender como se faz, de querer aprender. o resultado é que os irmãos passaram o ano novo juntos. uma veio do ceará. o outro, de sampa. e mais um, do mato. reunimo-nos, aqui, na casa da irmã mais velha. e foi bonito. na primeira vez que tentamos, depois de crescidos, houve vários estranhamentos. nos amávamos ainda, mas já não sabíamos como conviver com tanta diferença. até o preço da carne foi motivo de discórdia. o preço da cerveja, então, teria sido o dissenso, se não houvesse a gargalhada. neste ano, elas me ligaram perguntando se compravam logo a cerveja. compraram. eu cheguei na manhã do dia 31, encantada com o ombro onde pude dormir durante quase toda a viagem. no resto, ficamos de olhos abertos vendo a chuva na estrada. sim, talvez seja esta a beleza. acho que não foi dificil para ele, apesar de sua alma atrapalhada ter feito um furo no teto da minha irmã. um furo no teto, quando a vontade era que tudo corresse bem... ele se sentiu protagonista de uma daquelas comédias em que tudo dá errado, mas tudo acaba em gargalhada. muita risada na primeira hora do ano. e muita preguiça nos dois dias seguintes; preguiça regada a churrasco. tatus em família.

estou aqui, pois, em porto. onde me sinto em casa. lendo, enquanto com os ouvidos ouço as histórias das minhas irmãs. elas repetem a mesma história inúmeras vezes. e são teimosas. sorrindo complacente, eu me pergunto se faço o mesmo. se sou assim. desconfio que sim. talvez todos façamos isto; afinal, as nossas histórias são o que nos provam que estamos vivos, que temos uma vida.

tenho aprendido isto. será que tenho aprendido mesmo? talvez desaprendo. sei que em julho paris estará menos frio. e talvez eu esteja lá lamentando não poder usar meus chapéus. agora, aqui em porto, está muito quente. e tem muita vida circulando. eu carrego para cima e para baixo "conversas com almodóvar" e leio partes dele em voz alta para o ney, atrás da sintonia que pressentimos. almodóvar me faz sentir tão viva. parece que carrego em mim todas as suas cores, todas as suas intensidades. sinto vontade de tantas coisas. sinto desejos.

que nada me tire os desejos. o poder de desejar.
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7 Palavrinhas:

renata penna disse...

a beleza é a gente estar sempre de braços abertos, prontos pra se entregar à vida, venha como vier...
bjo, flor!

Pips Marshall disse...

Mi, eu te entendo tantoooooo!!! preciso conhecer esse amor! saudades de tu!
Estou lendo um livro e me lembrando de vc! é mais um do Bauman! beijos
Fa

marcos disse...

Lindo post.
Feliz 2009. Tudo de bom pr'ocê, moça.
Beijodaí.

Cristina Soares disse...

chapéus ?? empresta um !que eu uso por você !! Mas te apronta que julho daqui a pouco está aí... e Paris tbém !! bjux

Vais disse...

Olá Milena,
as relações nas famílias, sejam elas pequenas ou grandes, se assemelham em muitos momentos, isto dentro de cada sistema de relacionamentos, também porque fazemos parte , incluídos e excluídos, desta sociedade, nos relacionamos...
mas venho aqui por causa dos desejos, é o que tenho pra ti e os teus e tuas queridos e queridas, desejos que 2009 seja de muita alegria
beijos

Fabiano Rabelo disse...

sabe de uma coisa? quando não ir é ficar, nada se perde...
quando não ir é apenas não ir uma fada morre em algum lugar, ou em em nenhum lugar

Olga de Mello disse...

Bonito, Milena. É bom começar o ano aconchegada.
beijo