sexta-feira, 3 de abril de 2009

Meu amor pelas artes plásticas

Enquanto zapeávavamos países da Europa pelo mapa do Google, sonhando com o dia em que faremos uma viagem a três (sonho talvez nem tão distante), eu dizia ao Ney que quando moramos em Paris, nem que seja por um curto período, como é o meu caso que passei um ano, mudamos a nossa relação com a arte. Acho que chegamos a este assunto por que eu tentava diminuir minha culpa por ter comprado alguns livros de arte quando tinha jurado que não compraria nenhum livro até pagar todos os que já comprei nos últimos meses. Não sei se essa mudança ocorre com todos. Mas posso afirmar que ocorreu comigo.
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Antes, eu não era totalmente alheia às exposições que ocorria em São Paulo. Lembro de uma manhã inteira perdida nas ladeiras da Vila Madalena para ver uma exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe ou do meu assombro ao ir ao Masp pela primeira vez, onde já voltei inúmeras vezes. Mas foi em Paris, e em cidades da Europa, onde realmente criei o gosto de apreciar obras de arte. Eu quase me arrisco a dizer que passei mais tempo em museus do que em bibliotecas, que por força da minha pesquisa era onde eu deveria estar. Visitei quase todos os museus de Paris, alguns mais de uma vez, além de muitas galerias e inúmeras exposições temporárias. Sem contar o Pompidou, que era minha "sala de estudo". Quando me cansava de pesquisar, ia dar uma volta nas exposições. E em todas as cidades que visitei, os museus eram prioridade. Fui a Madri, sem ter mais um tostão no bolso, apenas porque descobri que era lá que tinha a coleção mais completa de Bosch. E chorei diante do
Jardim das delícias e também diante de Guernica, de Picasso. Outra emoção indefinível foi ver os inúmeros quadros de El Greco em vários lugares de Toledo. E tendo ido a L'Orangerie, em Paris, para ver os nenúfares de Monet, como todos fazem, eu saí impactada de fato pelos quadros de Cézanne e sobretudo pelos de Soutine, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Em Londres, viajando com dois artistas plásticos, praticamente não vi a cidade. Foi um entrar e sair de museus. A Tate Gallery me pareceu feia por fora, mas o que há dentro dela vale a volta a Londres muitas vezes. Aliás, visitar museus com a Adriane, uma dessas artistas, eram momentos de rara beleza. Lembro de um dia estarmos em Estraburgo e eu e Mari fazermos um comentário sobre uma obra que, basicamente, era uma espécie de varal onde se encontravam pendurados panos de tons beges. Mari falava da dificuldade de ver beleza naquele tipo de arte. A explicação simples da Adri, ao nos mostrar que a dificuldade residia no fato de a imagem ser um objeto, e não uma pintura emoldurada em um quadro, mas que havia ali seleção de objetos, volume, leveza, nuances nos tons em bege tal e qual em uma pintura, me deixou fascinada. Para mim, que intuitivamente sempre gostei mais de arte contemporânea, foi uma espécie de revelação. Foi apenas em Roma, muito mais do que no Museu do Louvre, que sempre me causava uma espécie de saturação, que me senti próxima da pintura clássica. Lá fui a museus, igrejas, galerias, às vezes, apenas para ver uma pintura. Foi lá que tive a sensação de estar em uma cidade muito antiga. Sem a política de restauração e preservação de Paris, sem a sua riqueza ostentatória, Roma pareceu-me por inteira uma imensa obra de arte corroída pelo tempo.

Entre as muitas caixas de livros que enviei ao Brasil, boa parte delas continha livros de arte (lá muito mais barato do que aqui). E o certo é que eles não viraram peças de decoração. Tem sempre algum que estou lendo; e os leio com o mesmo prazer com que leio um livro de literatura. Daí por que, desde que voltei a trabalhar, tenho aproveitado todas as promoções dos livros de arte da Cosacnaify. Tem chegado aqui cada preciosidade!
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Eu não tenho nenhuma pretensão de entender de arte; tenho dificuldade em memorizar os movimentos, que para mim são incontáveis, daí talvez porque eu pense mais em artistas. Gosto de muitos. Evidentemente, por não ter um conhecimento profundo, assim como ocorre com o jazz, eu acabe conhecendo aqueles que têm um nome mais reconhecido. Porém, nesta miscelânea, eu já consigo identificar muitas das razões por que gosto mais de alguns artistas do que de outros. Tenho, por exemplo, fascínio por Francis Bacon, que não conhecia antes de conhecer a Adri. Assim como mantenho intacto meu amor por Schiele, Bosch, Gauguin e Modigliani, que vem muito antes do meu amor pelas artes plásticas. Gosto demais de Robert Rauschemberg, Louise Bourgeois e Cindy Scherman, que também vi em exposições em Paris. E gosto de Farnese de Andrade, Ernesto Neto, Leonilson e Cyane Pacheco. Exceção, talvez, de Gauguin e Modigliani, todos estes artistas têm algo de grotesco nas suas obras. Possuem algo de perverso, de doloroso, de abjeto.
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Sim, definitivamente, meu olho se emociona diante de tanta beleza - seja estranha ou não. E , na verdade, não sinto culpa alguma ao ler um livro como o que leio agora: "Reflex: Vik Muniz de A a Z". E só o leio agora porque ainda sou do tipo daquelas gentes que têm coragem de gastar seu dinheirinho suado com estas inutilidades que servem apenas para isto: emocionar.
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Foto: Eu nos quartos de Rafael, no Museu do Vaticano, by Mari.
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3 Palavrinhas:

Cristina Soares disse...

E não há como ficar indiferente ou totalmente ignorante a arte na Europa... é tudo muito mágico, nos levando a lugares longínquos, a pessoas de outras épocas, a sentimentos que não são nada modernos... é meio louco até !

Anônimo disse...

a força da energia contida nas telas nos invade e faz com que o coração pulse num bater diferente ora lento ora acelerado e a gente fique sem respiração embevecida ,fascinada e pensando como pode existir tannnnnnta beleza.

Anônimo disse...

Milena, é maravilhoso ver esse seu amor pelas artes plásticas. Esse é um universo ainda (e talvez para sempre) distante de muita gente. Vai torrando seu suado dinheirinho nessas" inutilidades", minha cara.

Um abraço.