nunca tive certeza se queria ser mãe. e já tive certeza de que não queria. sempre tive medo das mães. primeiro da minha. medo que se estendeu a muitas outras que conheci. bicho estranho é mãe. ou é boa demais. e assim faz mal aos filhos. ou é ruim demais. e assim faz mal aos filhos. meus olhos secos sempre acham que uma filha está mentindo quando afirma que nunca odiou aquela que lhe pôs no mundo - nem que tenha sido por um instante. porém, o que me impedia o desejo de ser mãe era a vontade de "correr mundo, correr perigo". sempre tive relacionamentos longos e ainda assim cheguei aos 34 anos sem uma prole. não que eu tenha planejado que assim fosse. não deu certo por uma ou outra razão. dolorosas algumas. daí que eu tinha convicção de que se não tivesse filhos não me frustaria. nem mesmo pensava em outras hipóteses como adotar. a imagem mais corriqueira que eu fazia de mim era envelhecendo em uma casa com gatos, livros, cds e alguns poucos amigos que me ligariam e não esperariam por nenhuma ligação minha, sabedores que seriam da minha fobia por telefone. queria envelhecer do modo que eu já vivia e que sempre me pareceu muito bom, muito charmoso, muito poderoso. nunca fui acometida de solidões que me levassem a pensar que eu precisaria de uma família, de um filho.
então Poeminha veio e mudou tudo. assim que eu soube, comecei a chorar. e as primeiras frases que pronunciei foram: "eu não quero ser mãe. eu não quero estar grávida". as do pai foram bonitas e arrebatadas da paixão que agora vivenciamos dia a dia: "não chore, senão ele vai saber que você não quer". eu achei que choraria a manhã inteira, mas para minha surpresa voltei para a cama e adormeci quase de imediato. sono profundo e repousante. e à noite, já sonhava nomes aconchegada nos braços do pai. escrevo sobre estas coisas porque, agora grávida, submeto-me à hidroginástica e a sessões de shiatsu. primeira vez na vida que me entrego aos cuidados de uma técnica oriental. sempre achei admirável. só nunca tive paciência para buscar este tipo de bem-estar que sempre me pareceu artificial. algo do tipo: "se você não é capaz de relaxar sozinha vendo um bom filme, lendo um bom livro, vivendo sua solidão necessária, então pague a um profissional que lhe dê alegria". burrice, claro. porque o corpo precisa de movimento. e é justamente isso que meu corpo mais fala para mim neste momento grávida. poeminha está com os pés "alojados" na minha costela, na posição vertical desde o princípio. dor latente, incômoda, física. e lá me vem a moça do shiatsu com aquelas perguntas de psicólogo de botequim: "você está nervosa? ansiosa? impaciente? você deseja estar grávida?" e eu lá: "não, não, não; sim, muito". e me diz que toda minha energia está represada por alguma contrariedade. e eu me esforço para encontrar a tal contrariedade. e nada. e penso em freud. em lacan. e me pergunto: "será? será que no subconsciente ainda estou com medo de ser mãe?" e penso nestas coisas. na minha mãe. na minha alegria, nos tantos perdões, na tanta leveza que carrego em mim, nos tantos fantasmas. e decido por conta própria que não tenho energia psíquica nenhuma represada. o que tenho é um menino bernardo com os pés nas minhas costelas e uma enorme alegria por ter me enganado. porque estou amando estar grávida, amando a ideia de ser mãe, e cá para nós: como toda mãe, estou convicta de que serei a "melhor do mundo", no que isso tem de bom e tem de medonho.
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então Poeminha veio e mudou tudo. assim que eu soube, comecei a chorar. e as primeiras frases que pronunciei foram: "eu não quero ser mãe. eu não quero estar grávida". as do pai foram bonitas e arrebatadas da paixão que agora vivenciamos dia a dia: "não chore, senão ele vai saber que você não quer". eu achei que choraria a manhã inteira, mas para minha surpresa voltei para a cama e adormeci quase de imediato. sono profundo e repousante. e à noite, já sonhava nomes aconchegada nos braços do pai. escrevo sobre estas coisas porque, agora grávida, submeto-me à hidroginástica e a sessões de shiatsu. primeira vez na vida que me entrego aos cuidados de uma técnica oriental. sempre achei admirável. só nunca tive paciência para buscar este tipo de bem-estar que sempre me pareceu artificial. algo do tipo: "se você não é capaz de relaxar sozinha vendo um bom filme, lendo um bom livro, vivendo sua solidão necessária, então pague a um profissional que lhe dê alegria". burrice, claro. porque o corpo precisa de movimento. e é justamente isso que meu corpo mais fala para mim neste momento grávida. poeminha está com os pés "alojados" na minha costela, na posição vertical desde o princípio. dor latente, incômoda, física. e lá me vem a moça do shiatsu com aquelas perguntas de psicólogo de botequim: "você está nervosa? ansiosa? impaciente? você deseja estar grávida?" e eu lá: "não, não, não; sim, muito". e me diz que toda minha energia está represada por alguma contrariedade. e eu me esforço para encontrar a tal contrariedade. e nada. e penso em freud. em lacan. e me pergunto: "será? será que no subconsciente ainda estou com medo de ser mãe?" e penso nestas coisas. na minha mãe. na minha alegria, nos tantos perdões, na tanta leveza que carrego em mim, nos tantos fantasmas. e decido por conta própria que não tenho energia psíquica nenhuma represada. o que tenho é um menino bernardo com os pés nas minhas costelas e uma enorme alegria por ter me enganado. porque estou amando estar grávida, amando a ideia de ser mãe, e cá para nós: como toda mãe, estou convicta de que serei a "melhor do mundo", no que isso tem de bom e tem de medonho.
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