quarta-feira, 23 de setembro de 2009

...

Imersa.
Inteiramente à espera.
Inteira.

Imensos dias.
Tudo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os titãs e os berros

Com tantos cds é natural que muitos deixem de ser ouvidos. Quem consome bens culturais, não deixa de ter a voracidade de outros tipos de consumidores. Às vezes, a avidez pela novidade é apenas isto: avidez, enquanto aquele velho cd, ou livro, ou filme, estão ali esperando para serem de novo "contemplados". Nestes dias, eu tenho me dado ao luxo da revisitação, ouvindo cds antigos, assistindo a filmes que havia comprado e ainda não havia assistido e lendo alguns livros. Enfim, tornando viva matéria morta. E hoje, por conta da visita do Bozoca (preciso escrever sobre esta figura!) que apareceu sábado no exato instante em que eu resolvia ver um filme que o deixou estarrecido, melancólico e ainda mais cáustico do que já é, amanheci ouvindo Titãs - fase Arnaldo Antunes. E como eram bons os Titãs! Nada a ver com a cópia em que se transformaram. Os cds ouvidos foram Jesus não tem dentes no país dos banguelas e Õ blesq blom, que dispensam apresentações para quem era fã da banda. Embora eu tenha grande admiração pela trajetória do Arnaldo Antunes - fã de babar mesmo, de comprar tudo, desde os livros até os cds -, ouvindo estes cds eu fico com saudade do Arnaldo que não existe mais. Sinto saudade do berro, do ruído, da boca suja (ok, boca suja ele ainda tem, mas o tom visceral, próximo do grito, faz falta), como quando Os Titãs berram, bem próximo da oralidade: Todo mundo quer amor/ Todo mundo quer amor de verdade/ ... Quem tem pinto saco boca cu buceta quer amor/ Ele quer/ Ela quer.

Sim, sim, o mundo precisa deste tipo de berro vindo da arte, deste choque, desta estocada nos bons costumes, nas palavras comedidas. É preciso sentir o pulso pulsar bem forte, deixar-se contaminar pelo nosso lado mais cão, porque ele existe. E isto não significa deixar de ser gentil, de ter cuidado conosco e com o outro, significa ser menos ascéptico, saber gritar quando o outro grita, saber se lambuzar de doce ou de porra ou de porre e nem por isso duvidar que se é cumpridor do seu cartão de crédito a vencer. Isto me faz lembrar de outra música que diz: "Não preciso ser alguém,/ eu consigo viver sem/ armas pra lutar." E enquanto ouço, penso que meu intento sempre foi este: desarmar-se. Viver armado é a maior merda que se pode fazer com a própria vida - como são tristes pessoas que não param nunca de pensar que existe um batalhão pronto para devorar seus rabos. Deveriam ouvir mais música, ler mais livros, ver mais filmes, deveriam querer "inteiro e não pela metade" , deveriam vez ou outra experimentarem a delicadeza de um instante porrada ao som dos Titãs.
...
Talvez seja Bozoca que esteja me fazendo lembrar, talvez sejam os Titãs, ou talvez eu seja assim mesmo, sempre tenha sido, embora ponha reparo para não dar muito na vista.

.
.
.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O correr dos dias

Durante o SILIC, meus pés incharam muito. E tendo irmã enfermeira, sem contar todos os conhecidos que viram médicos, benzedeiras, curandeiras, passamos a fazer a maioria das refeições em casa para diminuir o sal, o que, dizem, é essencial para diminuir o inchaço e para que a pressão não suba (esta, sim, o verdadeiro vilão da história). Tatupai não é chegado a sal mesmo, então tem feito uns pratos que não têm sal algum, mas muito saborosos. Minha única contribuição continua sendo as saladas e vez ou outra um arroz. Além de toda trupe de "médicos", ainda topamos com uma daquelas senhoras de posto de saúde que nos disse que uma pressão 12 por 8 em uma grávida já era um perigo iminente. Tatupai não titubeou: comprou um aparelho de medir pressão. E eis que todos os dias averiguamos a pressão, mesmo depois que o médico disse que a tal senhora falou uma grande bobagem. A pressão vai bem, obrigada. E os pés desinchados.

Eis que descanso então! Esta é a outra mudança. Trabalhei incessantemente, e em ritmo acelerado, durante toda a gravidez a ponto de ter a sensação de não ter visto este tempo passar. Começando a carreira acadêmica, a universidade virou prioridade. Mas agora, no último mês de gravidez, barriga pesada, com o fim do SILIC, resolvi desacelerar, embora ainda tenha mil coisinhas pendentes. Estou resolvendo essas pendências a conta-gotas. E ao contrário da maioria das grávidas, embora à noite tenha que negociar horas de sono com o Poeminha, não sinto muito sono de dia. Então estou fazendo aquilo de que mais gosto: vendo filmes, lendo bastante e ouvindo muita música. A barriga incomoda, sim, mas me encho de almofadas ao redor de mim e abro minhas janelas. Não tenho palavras para explicar como isto me faz bem. Difícil compreender as pessoas que se sentem ou solitárias ou entediadas em casa. Eu me sinto viva, totalmente entregue a estes momentos.

Colocamos uma rede ao lado dos cds, no meio da casa, como um convite para os momentos de entrega à música, à leitura, à preguiça. E finalmente temos um sofá exatamente como imaginamos. Eu brinco que tem cara de sofá de "novo-rico" (entendam a ironia: é aquela coisa exagerada, quando o tamanho da sala pediria algo menor), mas como é confortável! À noite, reencontramos o prazer de ficarmos deitados assistindo a filmes, conversando, traçando vidas. E à espera. Ficamos com a sensação de que as noites são nossas.

Enfim, o mundo todo bem aqui conosco à espera.

Nós

Eu fico olhando para o mundo daqui da minha janela imaginária. E entretanto tenho curtido muito viver do lado de dentro da janela. Existem "vidas" que só sabemos que queremos vivê-las quando de fato a vivenciamos. Tem sido assim com minha vida de "casada" e mãe (embora Poeminha ainda não tenha visto o mundo, já me sinto toda mãe). Se me perguntassem há um ano se eu queria isto, a resposta teria levado este momento para um futuro longíquo, como uma pedra que jogamos no mar esperando que ela se perca no horizonte. Como tudo aconteceu, não tenho resposta. Lampejos de carinho. Cumplicidade. Leveza. Tesão. E aí estava o momento certo surgindo... Tudo sem planejamento e sem stress, sem pressão, como se seguíssemos uma cartilha interior que estivesse nos ensinando a chegar até aqui. E já vai fazer um ano! Rimos da nossa pressa, da nossa falta de jeito, do nosso jeito. E é isto. Rimos. Somos dois Tatus. E já nos acostumamos tanto a sê-los que quando proferimos nossos nomes nos espantamos, como se aqui, do lado de dentro da janela, tivéssemos aprendido a nos reinventar. Se seremos daqui a um tempo um casal cansado como muitos que conhecemos? Não sabemos a resposta, mas também não fazemos esta pergunta. Traçamos planos o tempo todo, como se nosso amor nunca fosse envelhecer. E vivemos o "a cada dia" sempre cheio de delícias, de pequenos cuidados, de esperas, de chegadas, "enosmesmados".


imagem: Majeak Ann

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

...


Um reality show de palavras?
Para mim, o twitter é uma bobagem!

Primeiro a frase antipática para depois modalizar o discurso: ali nada me parece interessante. Mas eu acho ruim ser tão do contra, afinal tanta gente que parece legal acaba "twittando"! Aí, eu fico matutando: "por que acho tão besta?" E me vem uma resposta que, lógico, é muito pessoal, diz respeito ao modo como me relaciono com os tais "sites de relacionamento": eu não quero saber o que as pessoas fazem; quero saber o que elas pensam a partir do que fazem.

Os melhores diários, assim como os melhores blogs, são aqueles que transcendem a lógica do dia a dia, afinal até mesmo o cotidiano das pessoas mais interessantes é um sem fim de pequenos afazeres desimportantes. E os momentos desimportantes cheios de ternura só fazem sentido para quem os vive. E no twitter, lêem-se coisas do tipo: "indo para a academia", "assistindo ao jogo do Flamengo", "vou dormir, boa noite"... Pra quê dizer ou saber desse tipo de coisa? Eu sempre achei exagerado o discurso apocalíptico sobre a relação das pessoas com a internet, como se isso significasse um empobrecimento das experiências humanas, mas confesso que diante de um twitter eu não consigo encontrar um só razão inteligente para sua existência.

Deixemos então.

O silic e o gepec




... O SILIC aconteceu. E foi um sucesso. Sucesso é palavra besta. Foi um tanto de coisa então. Emoção. Chorei desde a abertura. Acho que não expliquei. Participo de um grupo de pesquisa na Universidade. Chama-se GEPEC - Grupo de Pesquisa em Poética Brasileira Contemporânea. Todas as segundas nos reunimos por uma hora e meia. E o SILIC foi o simpósio que inventamos. Invenção de várias cabeças. Um blog deveria servir para contar estas coisas. Mas eu fervilho. E talvez o essencial não vire palavras. Só digo que teve de tudo. Organização para ninguém botar defeito. Se brincar, passaremos a vender consultoria de como organizar eventos com pouco dinheiro e muita criatividade. Sabe quando um grupo está por inteiro entregue a um projeto? Foi assim. Nenhuma ordem precisou ser dada, nenhuma pressão, nenhum stress. Três dias felizes... e os extras aqui em casa. Quem pode falar assim hoje de um trabalho acadêmico? Sim, muita sorte eu tenho. Sempre gente boa aparece ao meu lado fazendo com que minha vida seja uma constante surpresa.