terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As vidas dos artistas, de Calvin Tomkins

Eu já disse por aqui que gosto muito de arte contemporânea. As minhas andanças pelos museus da Europa deram-me a certeza de que, apesar de admirar a pintura clássica, são as loucuras da arte moderna e  contemporânea que me deixam sem prumo. Então, quando eu li uma resenha do livro As vidas dos artistas, de Calvin Tomkins, soube de imediato que precisava lê-lo. Porque os artistas a que se referem o título podem ser considerados os nomes mais expressivos da arte contemporânea: Damien Hirst, Cindy Sherman, Julian Schnabel, Richard Serra, James Turrel, Matthew Barney, Maurizio Cattelan, Jasper Johns, Jeff Koons e John Currin.

Se eu não tivesse um filho para criar, teria lido de uma sentada, como se diz. Calvin Tomkins, um dos principais críticos de arte, durante uma década, escreveu na revista The New Yorker, esses perfis agora traduzidos no Brasil. E o fez de modo arrebatador. Ele parte da premissa de que a vida dos artistas têm a ver com a sua arte, renegando o preceito estruturalista de que só a obra interessa. No entanto, o que é interessante é que ele não escreve estas biografias atrás do choque do escândalo. O que ele faz é desmistificar o escândalo da vida (as bebedeiras, os egos inflados, as brigas, as disputas) para que o escândalo das obras fique intacto. Fica evidente que Tomkins admira estes artistas. Talvez seja mesmo mais que admiração. Seja amor. 

E talvez seja isso que o livro nos ensine: é preciso amar a arte contemporânea para admirá-la. Não é porque a arte de agora está próxima da indústria, do espetáculo, da sociedade de consumo, que ela perdeu o seu traço transgressor. Por que um tubarão conservado em formol? Uma estátua de cera de John Kennedy em tamanho natural deitado em um caixão? Por que fotos pornográficas do próprio artista? Porque pinturas com a excelência do traço clássico servindo-se a cenas pornográficas? Por que enormes estátuas de bonecos do Incrível Hulk? Que arte é esta?

Tomkins não responde a estas perguntas. O que se lê é o rastreamento de momentos decisivos da arte contemporânea. Ele simplesmente nos diz que estas obras existem, são vendidas por milhões de dólares e muitas vezes possuem uma beleza desconcertante e rara, daquela beleza que só a arte pode oferecer. 
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