quinta-feira, 24 de junho de 2010

livro aberto


começo aqui uma seção. mais uma. existe já "para o filho". porque os livros fechados me incomodam. um livro fechado é um morto encerrado em seu caixão. à espera de. sobretudo, porque quero compartilhar os livros que eu amo. e no momento em que descubro que a parte técnica da fotografia me parece cifrada, mais me apaixono pela foto em si. tenho agora a máquina dos sonhos e eis que não nos entendemos. talvez por isso. amar bresson para uma amadora de fotografias é um lugar comum. mas eu já disse aqui::: não tenho medo do lugar comum. desde que ele me leve sempre mais longe. uma seção, então.

* Henri Cartier-Bresson: fotógrafo. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sobre Saramago e as lembranças


Fico grávida de memórias quando penso em José Saramago. E quis o acaso que, depois de muito tempo sem lê-lo, eu tivesse na cabeceira da cama um livro dele quando soube da sua morte. Quis ficar triste, vazia toda por dentro. Mas logo em seguida pensei que quem soube viver como ele, poderia ir quando fosse a hora, se existe a hora.
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Quando fazia Letras, eu planejei ler toda a sua obra, tamanho o meu espanto diante de O evangelho segundo Jesus Cristo. Este livro ajudou a formatar meu gosto pela leitura. Nunca posso esquecer o que senti quando o li. Trago em mim uma convicção que surgiu daí e não mais me largou: não tenho medo da linguagem da literatura, não importa qual  seja o seu grau de dificuldade.
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Lembro de mim e da Mari, em uma daquelas enormes rodoviárias de São Paulo, exaustas, depois de perambular o dia inteiro. E entre ir ou não assistir a O evangelho segundo Jesus Cristo, que então era encenada, olhei para ela e disse:  "Agora que estamos cansadas, estamos propensas a não ir. O que decidiríamos se não estivéssemos cansadas?". Essa pergunta em tom de desafio foi determinante para que meia hora depois cochilássemos no teatro. Não posso afirmar com certeza se a peça era boa. A lembrança mais nítida que tenho é do frio que sentia nas minhas pernas, que subia para a bunda, que fazia doer minha garganta, que não me deixava dormir quando era o que mais desejava.
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Li Ensaio sobre a cegueira em um dos momentos mais confusos e ao mesmo tempo mais lindos da minha vida. Nunca mais fui tão interessante e tão desesperadoramente contraditória. Ali rompi com tudo que eu era. Caí na noite, bebi muitos porres, menti, fui feliz demais, vivi só. Tudo, muito. Ali fiz e disse as coisas das quais mais me orgulho e das quais mais me arrependo. Hoje já não  sou aquela menina, mas continuo pensando que todo mundo merece viver um tempo em que se acha a pessoa mais poderosa do mundo.  Era tudo tão intenso que eu literalmente senti os cheiros de Ensaio por dias seguidos. Encontrei muitos outros cheiros fértidos - em Lúcio Cardoso, em Artaud, em Bernhard, em Suskind, mas nenhum como aquele. Talvez porque nenhum tempo mais foi como aquele.
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Memorial do convento é a história de amor mais bela que já li. Nenhuma  havia me dito antes que podemos carregar o amor nas vísceras; que depois de andar milhares de léguas, podíamos senti-lo antes mesmo de vê-lo. Blimunda e Baltasar me ensinaram a amar, se o ensino tem a ver com o desejo de. 
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Paro por aqui, quando muitas outras lembranças ainda me agarram. Professora, hoje leio Viagem do elefante. Brado aos ventos surdos que é um pecado sair do curso de Letras sem ter lido um livro inteiro do Saramago. No fundo, procuro em cada aluno o gosto agridoce da aluna que eu fui.  
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Obrigada, Saramago, por estar na minha vida há tanto tempo. Acho que sempre estará. 
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Objeto de desejo



E nem é tão cara assim...
Proibida, no entanto!

sábado, 12 de junho de 2010

Meus


Amo.
Simples assim.

Para ouvir


Não é medo, nem é riso/ Não é raso,
não e pouco, nem é oco/ Não é fato,
nem é mito / Não é raro, não é tolo,
não é louco / Não é isso, não é rouco
Não é fraco, não é dito, não é morto

Móveis coloniais de acaju.
Vale a pena

terça-feira, 8 de junho de 2010

dias


então assim. louise bourgeois morreu. eu senti como se alguém muito próximo.  kazuo ohno também - antes que eu fizesse quadros dos seus retratos que tenho há muito tempo. é uma pena que o corpo se deteriore com o tempo. até se esvair. fiz quadro do yellow submarine dos beatles, e o poeminha continua dando risadinhas quando olha para. são assim os dias. cada vez mais longe do passado. cada vez mais fincada no presente. soltei desaforos via email. e recebi desaforos de volta. antes, sofri um bocado. agora, às risadas, reconheço que morei dois dias na minha cabeça, acumulando rancores para depois soltá-los ao vento, que não vale a pena. não vale a pena alimentar nenhuma loucura. nem a minha. nem a dos outros. a não ser a loucura produtiva. a loucura dos que têm fome.  foi assim que reencontrei valdir. as ideias do valdir. e me contaminei com elas. vale a pena registrar este tipo de beleza. já estava escrito, só pode. espero que eu consiga ter no 22º FALE os mesmos sonhos e as mesmas ousadias que eu e mari, quase meninas, tivemos no 10º FALE. só agora reparei como foi bonito. foi bonito "eu não tenho nada, apenas a mim". teria sido arrogante, se minha voz não tivesse tremido. se o mar não fosse meu rival. então. 22º FALE aqui, no próximo feriado de corpus christi. neste, estivemos no 21º. bonito como sempre. e ainda mais com nós três. tatupai, tatumãe, poeminha. falei em público e não fiquei nervosa. talvez porque meu filho estivesse ali e eu o procurasse todo o tempo, enquanto estava presa à mesa. e tem as amigas. deixo lastros. faço amigos. e gosto cada vez mais. e, sim, não ganhamos o tão desejado edital. chorei. pelas noites em claro, pelo lindo projeto por ora suspenso. cada centava seria tão bem empregado, se eles soubessem. seja lá como for a seleção, eles não poderiam adivinhar todos os desejos que a sigla GEPEC congrega, como trabalhamos com alegria e com tesão. quem sabe o próximo? porque dá vontade de desistir diante do não, mas apenas por algumas horas. depois. depois tudo recomeça. como esta tentativa do poeminha. por várias vezes, tentou agarrar o girassol, até que.

sim, à vida.
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terça-feira, 1 de junho de 2010

Precisos líquidos, de Louise Bourgeois

"O significado da arte moderna é que você tem de encontrar sempre novos meios para se expressar, para expressar os problemas, que não há meios definitivios, nem uma abordagem fixa. É uma situação dolorosa, e a arte moderna trata dessa dolorosa situação de não haver absolutamente uma maneira definitiva de se expressar. É por isso que a arte moderna continuará, porque essa condição permanece; é a condição humana moderna... É sobre a dor de não ser capaz de se expressar adequadamente, de expressar suas relações íntimas, seu inconsciente, confiar no mundo o suficiente para se expressar diretamente nele. É tentar manter a sanidade nessa situação, ser prudente e temporariamente são expressando a si mesmo. Toda arte vem de fracassos terríveis e de necessidades terríveis que temos. É sobre a dificuldade de ser um self, porque somos desprezados. Em todo o mundo moderno há desprezo, a necessidade de ser reconhecido que não é satisfeita. A arte é um modo de reconhecer a si mesmo, e é por isso que sempre será moderna".

BOURGEOIS, Louise. Desconstrução do pai, reconstrução do pai: escritos e entrevistas 1923-1997. São Paulo, Cosacnaify, 2000. p. 166.


Preciosos líquidos, no Centro Georges Pompidou, toscamente fotografados por mim.

Louise Bourgeois est partie

 
Louise Bourgeois est partie. Há cinco anos, eu comprei seu livro de escritos e entrevistas e escrevi: "Sei apenas de uma coisa: gostaria de ficar, de viver assim tanto e tão intensamente".