segunda-feira, 19 de julho de 2010

em casa

(fotos depois)

muitas coisas me fazem lembrar que nasci aqui, em Iracema. e muitas outras me fazem lembrar que parti. gosto sobretudo das pessoas. é como se voltasse a ter quinze anos. havia muito amor a amparar o pouco amor. era bonito. hoje sei que era bonito. talvez por isso me venha esta moleza. para além da crise da garganta que me deixou no fundo da rede nos primeiros dias de férias, sempre que venho há como que uma parada no tempo.  sinto vontade de mudar uma porção de coisas e, ao mesmo tempo, me é tudo familiar. 

nunca sinto que estou de passagem (e estou de passagem há vinte anos). tenho vontade de ficar. e ficar por muitos dias. meses, talvez. até que viesse a saturação e eu tivesse certeza de que já não sou daqui. pois o que eu sinto é que jamais deixarei de ser daqui. as loucuras, as carências, as alegrias, o riso solto, o choro alto, o medo de que nada dê certo, tudo veio daqui. muitas lembranças me assaltam. e eu as conto ao Tatupai, aos risos, para, talvez, deixá-las definitivamente no passado.

e quando aos risos, minha amigaamada da infância, me lembra que eu era uma adolescente que fantasiava poses e posses, um pensamento me parte ao meio: hoje minhas fantasias são outras. assumo a pobreza que castigou minha infância e minha adolescência não como uma forma de me tornar heroína de uma vida que "deu certo", mas como uma forma de dizer que a sorte ou o acaso ou os encontros ou um pouco de perseverança fazem toda a diferença.

tudo bem. talvez não seja nada disso. na volta para casa, eu só queria mesmo ver meu pai carregando meu filho no colo, sentir o abraço da minha arev, comer buchada e queijo, repetir mais de uma vez que não gosto de coalhada e ficar olhando para a casa e como no jogo de sete erros tentar adivinhar quais móveis apareceram e quais desapareceram, quais saíram de lugar,  quais eu mesmo faria desaparecer, como um modo de reconhecer minha mãe, que está aqui, a brincar com meu filho.


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