domingo, 24 de outubro de 2010

Vou dilmar


* Peguei a expressão e o cartaz da Olga, sempre sabida em suas análises do mundo

As razões são muitas. Dilma, nem de longe, me emociona como Lula, mas é bobagem pensar que ela não tem cacife para ser presidenta. Ela será uma "mulher fêmea" cheia de vontades e ousadias. E é assim que as coisas boas devem ser feitas. Se ela foi a escolhida, resta-me assinar embaixo. 

E por que? Porque as mudanças feitas pelo governo Lula são por demais vigorosas para que fiquem para trás, como um hiato. Eu sei que muita gente é cética em relação a essas mudanças. Entretanto acompanhei muito de perto as realizações do governo ao menos em uma área, que foi a do ensino superior, e digo sem temor: nada se compara ao que aconteceu nestes oito anos. Uma efervescência tão grande que é impossível medir em números, embora estes sejam muitos. A minha trajetória profissional não seria a que está sendo, se não fossem os investimentos no ensino superior. Doutorado com bolsa de estudos, estágio na França também com bolsa, concurso público logo após o doutorado (é sempre bom não esquecer que no primeiro ano do governo Lula foram abertos mais concursos nas universidades do que em todo governo FHC). E numa universidade da "mata" (interior de Rondônia), como costumo brincar, meu grupo de pesquisa teve dois projetos aprovados, com ajuda financeira para o que chamamos de nossos "sonhos": o II Silic vem aí. E muitos livrinhos, computadores... E galerinha fazendo pesquisa, dando oficinas em escolas, discutindo, crescendo, sofrendo, rindo, ganhando suas bolsas de estudo para chegar bonita na seleção de mestrado, na seleção natural da vida. Não é preciso ser esperto para perceber que uma nova visão de Universidade está sendo construída. Uma visão muito mais democrática.

Há muita coisa torta? Há. Às vezes, o excesso de produtividade que nos é exigida nos faz entrar em uma roda viva tamanha que sobra pouco tempo para a maturação das ideias. O curriculo lattes vira um demônio de mil cabeças com seus dentes prontos a nos devorar... Mas confesso que agora sou menos revoltada com isto, porque de fato há na universidade muita gente acomodada, que nunca faz pesquisa, deitada sob os braços plácidos das suas aulinhas repetidas ano a ano...  Estas continuarão por muito tempo ainda, mas a sua mediocridade fica mais evidente quando em volta há gentes se mexendo.

Enfim, não dá para correr o risco de perder tudo isto. A campanha eleitoral está muito feia (e por conta da doença, tenho acompanhado tudo, desde o horário eleitoral gratuito!). Não precisaria ter chegado a este vale-tudo vergonhoso. E chegou porque, infelizmente, ainda há muita desinformação sobre a política, o que dá margem a todos esses jogos manipulatórios. Mas ainda vale continuar acreditando.  Porque tem muita coisa bonita que não pode se perder.
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

guillain-barré

adoeci no fim das férias. mantive umas tiradas irônicas diante do medo, para não perder de todo a elegância, mas o certo é que sofri de dor diante da possibilidade da morte e chorei bem alto em alguns momentos. me ver diante de tantas dores causaram-me um espanto inominável. não vou tentar descrever-me naqueles dias. não conseguiria. mas digo que nem sempre deu para me manter serena. oh year! vou "morrer de forma digna e serena" aos 80 anos. deve ser mais fácil. aos 35, achei que ainda era muito cedo.

guillain-barré não é uma doença incurável. o problema é que aniquila o corpo em poucos dias. e o diagnóstico, em geral, demora a vir. e é esta demora que pode causar a morte. no meu caso, demorou um tanto. mas o aniquilamento do corpo também demorou mais do que o habitual. ouvi diversas vezes que contraí guillain-barré na forma atípica e branda. alguns anjos estavam a postos, enquanto outros dormiam.

os homens é que não estavam muito atentos. voltamos das férias para Porto Velho comigo já cheia de dores e dormências nas mãos. em Porto, passagens pela emergência de hospitais, internação por vários dias, diagnósticos errados, dias em casa da Maneca esperando melhorar. neste entretempo, piorei muito: perda parcial da visão esquerda, dormências em todas as extremidades, perda de força muscular e muitas, muitas dores. angustiada, vi-me impossibilitada de levantar o Poeminha do chão. depois, não subi mais escadas e, mais depois, deixei de me levantar da cama sem ajuda. voltamos, então, para Fortaleza. dois dias depois, sabia o diagnóstico.  fiquei 14 dias internada.  e agora, aqui ainda estou, pés e mãos dormentes, acampada na casa da minha anja, longe de retomar a vida normal, mas recuperando-me um pouquinho a cada dia.

sim, uma anja transvestida de irmã. devo este segundo tempo da minha vida a mana Mácia. acho que por ser enfermeira, ela foi a primeira a perceber a gravidade da minha doença. não descansou até me ver de volta em Fortaleza. e foi incansável na busca pelo diagnóstico. e ficou comigo durante todo o tempo no hospital. como eu disse, tive muito medo, mas ao mesmo tempo me senti muito segura tendo-a ao meu lado. agradecida agora estou. e estarei  pelo resto da minha vida.

porque eu gosto muito de viver. não precisei estar perto da morte para saber disto: amo viver. e eu tive medo por causa disto: porque viver é bom, é bonito.
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