quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pedra do Ingá

Tenho em mim umas sementes de loucura. Guardadas, elas afloram por vezes saudosas. Porque há noites cheias de lirismo e beleza, eu quis conhecer a Pedra do Ingá. Noites de vinho música amigos. Eu fui na Pedra numa tarde chuvosa com meu Tatu, meu Poeminha, minha mana e meu sobrinho-afilhado, depois de atravessar os estados de Pernambuco e Paraíba. Não me importava que fosse apenas uma pedra com inscrições desconhecidas, tão antigas como não se sabe imaginar. E de fato é apenas uma pedra à frente das águas. Vi-a assim: uma pedra desnuda daquela loucura que guardo em mim as sementes. Mas durante todo o tempo que estive em volta da Pedra, com minha máquina em punho, as noites de vinho música e amigos estavam em mim, eu sentada naquela varanda que tem um rio que se chama preto, com aquela moça que tem amor e espanto pelos discos daquele moço que é seu. Eu vi o que vi através das sementes. E por isso fiz da tarde, noite. Só assim pude estar na Pedra com meus amigos loucos, e com eles acampei e dancei em volta do fogo e me banhei nas suas águas, tão terra, ar, água e fogo como o disco na vitrola que me levou até lá, o disco feito no ano em que nasci.  Pois é por isso que vale a vida, para sonhar e cuidar do sonho. E ter outro sonho no momento em que o sonho se faz real. 


Alguns dos arquivos:












Lula Côrtes e Zé Ramalho criaram lá o LP Paêibiru, hoje objeto raro e renegado pelo Zé. Meu amigo Weldon é um dos seres raros que tem e ama um destes vinis.

sábado, 20 de novembro de 2010

Tatumãe

 Pedro - saudade! - e Poeminha no primeiro dia em que demos água no canudo e ele prontamente aceitou 


Li agorinha no blog da Rê sobre amamentação, e resolvi também escrever. Já quis muitas vezes falar sobre este assunto. Pois foi um dos maiores espantos da minha história de mãe descobrir que não era "natural" apenas amamentar nos seis primeiros meses de vida do bebê. Ainda bem que sou teimosa. Entraram por um ouvido e saíram pelo outro os milhares de conselhos que recebi para dar chazinho, um pouquinho d'água, um mingauzinho, um leitinho na mamadeira ao Poeminha. Mas como assim, se desde que me entendo por gente ouço que o bebê não precisa mais do que do leite da mãe? 

Uma só vez caí na besteira de dar um chá, pois ele estava febril, mas ele vomitou. Era só o que eu precisava para ficar surda de vez aos apelos das pessoas a minha volta. E por que caí? Porque a pressão realmente é grande. Eu me sentia maltratando-o. Por outro lado, tinha certeza de que ele não sentia fome. E não posso dizer que amamentá-lo foi tranquilo desde o início. Aquelas propagandas lindas de aleitamento materno, mãe toda de branco, com bebê sorridente, não rolaram aqui em casa. Cheguei a odiar estas propagandas, chamando-as de mentirosas ou, no mínimo, escamoteadoras das dificuldades. Algo como aquelas sobre leitura com o slogan "ler é prazer". Nos dois primeiros dias eu não tive leite, mas devia ter algo lá que o satisfazia, sei lá. E durante mais de um mês meu peito direito ficou ferido. Ferido MESMO, com direito a casquinha que saía a cada nova mamada. Nada que eu colocava sarava o danado.  Um dia, quando percebi, a boca do Poeminha estava cheia de sangue - e uma bola de sangue no meu então enorme bico de peito. E haja pesquisar na net a melhor maneira, a posição mais adequada, até que meu obstetra, e não o pediatra, acertou a pomada.E doía? Doía pracaralho. Mas eu trincava os dentes e continuava. E por que continuava? porque não concebia fazer diferente. E porque, apesar das dores, logo me apaixonei pela delícia que era amamentar. A cumplicidade destes momentos não tem igual. Para mim, foi uma forma de continuar doando o corpo ao meu filho, de criar este vínculo que só vem de verdade se houver proximidade, entrega, emoção. 

E já havia decidido amamentar até quando ele quisesse, quando veio minha doença. Nos primeiros cinco dias no hospital, em Porto Velho, ainda burlamos a segurança e o Tatupai levava-o para amamentar. Mas já na viagem de volta para Fortaleza, eu percebi que quase não tinha mais leite. Ele já mamava por carinho, dengo, mas olhava tristonho para o peito e resmungava. Nem eu aguentava mais segurá-lo, nem havia mais leite. Ele tinha então  dez meses e já comia tudo. Ainda assim, foi um baque grande. Pior do que isso só ficar em seguida 12 dias sem vê-lo e mais de dois meses sem conseguir segurá-lo nos braços. 


E ainda tem a novela depois que ele completou seis meses: decidimos seguir uma dieta que eu também achava que toda mãe razoável seguia: sopinhas, comidinhas, muita fruta, sucos sem açucar e nenhum mingau, já que ele continuava amamentando. Desde o início, Poeminha foi bom de colher. Mesmo assim, foi bombardeio de todo lado. Diziam que sem mingau, ele passava fome, que suco sem açúcar era um horror, que fruta não alimentava, que tirávamos todo o "direito" da criança e por aí vai. Ainda hoje há cobranças, mas continuamos como dantes: sem dar ouvidos. 


Quero esclarecer que não sou xiita. Se dão um suco com açúcar, não faço escândalo; se alguém está tomando sorvete, e ele fica com cara de cachorrinho pidão, eu deixo dar um pouco, e eu mesma já dei. Afinal, ele é um glutão, faz um barulho danado, bate os pezinhos de alegria antevendo a delícia da comida, seja ela qual for, e não raro abre largos sorrisos enquanto come. Mas peloamordejesuscristinho o que passa na cabeça das pessoas? que a criança vai aprender a comer comida saudável se for empanturrada de doces, massas, biscoitos? Dia desses, tomávamos coca-cola e estenderam o copo para eu "colocar um pouquinho" para ele. Como disse o Tatupai: aí já é demais. Coca-cola para um bebê de um ano? é claro que sabemos que ele vai tomar coca-cola, empanturrar-se de guloseimas, mas que seja num tempo mais adequado. Enquanto eu puder adiar, não terei o menor pudor de fazê-lo. Já bati o martelo: antes de dois anos, ele não vai sentir gosto de refrigerante. E biscoitos chocolates balinhas massas, só quando passam por cima do meu cadáver. E tem sempre quem passe, infelizmente. 


Então, acho assim: se uma mãe não quiser amamentar seu filho ou quiser dar cinco mingaus por dia porque dá menos trabalho do que fazer sopas, é uma decisão dela. E não posso fazer nada. Mas lamento. E sou taxativa: a mãe erra quando não amamenta, a mãe erra quando não cuida da alimentação do filho. Eu nem digo para que se sinta culpada, pois sentir culpa não é mais do que uma forma de criar uma discursividade que escamoteia o erro. Mas se a ditacuja não se envergonha de posar de coitadinha dizendo que está sendo pressionada a ser "politicamente correta", eu também não me envergonharei de dizer, como diriam os antigos, de que isso é uma baita safadeza. É um discurso próprio do nosso tempo, em que as pessoas querem fazer tudo do modo mais fácil, sem que isso tenha consequência.


Enquanto eu tiver boca, vou repetir o mantra de que dar o peito a um bebê é um dos grandes prazeres da vida. E lamento muito por aquelas mães que não percebem isto. E acho, sim, que o aprendizado de ser uma boa mãe deveria passar pela experiência da amamentação. 
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Relatinho do Silic


O Silic foi mesmo bonito. Esta sensação: três dias com a alma nas mãos. E se eu tinha que falar na abertura, falei que os conferencistas tinham isto em comum: eram todos gente boa. E não menti. Cada vez mais tenho sentido vontade de estar perto de quem me interessa. Sorte poder estender isto para mais pessoas. Sorte ter cruzado com tanta gente sabida.

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Neste ano, as conferências aproximaram-se mais do tema que surgiu como surgiu o anterior (de uma vez): as aporias do contemporâneo. A sensação foi de uma grande cantoria, em que uma repercutia na outra. A primeira foi por conta de Valdir Barzotto, professor da USP. Ele sempre certeiro: quem ganha e quem perde quando afirmamos que o jovem de hoje não lê? quais máquinas de silenciamento estão aí em movimento? Por que ensinar e pesquisar literatura? A que será que se destina? A existirmos, foi a sua resposta.

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No outro dia bem cedo foi a vez de Binho, da Unir, entortar a cabeça dos bem pensantes, ao analisar a obra/persona da Clarah Averbuck.Ficção? Fricção? Ele sentiu o baque, mas titubeou pouco. É texto, mas quem escreve é uma moça pra lá de performática. O que a Universidade vai fazer com isto, é o desafio.

À tarde, houve uma conversa com professores do ensino médio. Esta eu perdi. Mas o burburinho foi grande. Valdir não é de brincadeira. Sem papas na língua, ele faz mais é incomodar. E quem não precisa se sentir instigado?

E Arnaldo Franco, professor de literatura da Unesp, de certo modo, continuou à noite com o aspecto "marginal" da empreitada, ao falar sobre o que há entre as experiências e os experimentalismos na literatura brasileira, focando na obra da Clarice, Roberto Drummond e Caio Fernando Abreu. 

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E as comunicações dos alunos? De dar lágrima no olho. Demais sentir o amadurecimento de cada um. Os volteios, as certezas, as belezuras. E a gente do Silic faz ficar com cara de mesa-redonda, todo mundo juntinho numa grande mesa.

Depois veio a Madalena, da Unemat. Mas eu, exausta de doença, não pude assistir. Sei que foi bom, com a moçada da plateia perguntando. Aliás, as pessoas estão tão perguntadeiras, o que demonstra que há aí um movimento de intimidade, de à-vontade, com o Silic.

Osvaldo Gomes iniciou a noite com sua teatralidade poética sempre a nos deixar com vontade de guerra. Aí veio o Marcos. O Siscar, agora na Unicamp. E cada vez mais poeta. Saiu um livro maravilhoso dele: Interior via satélite. Tenho-o aqui, agora, com um autógrafo tão tão tão bonito. Eu fiz possível para não me derreter demais. Binho diz queéfeio e eu, boba, acredito. Mas falei assim, da minha grande admiração por ele, não poderia deixar de falar. E ele falou sobre a questão da crise na poesia. Mas ninguém ache que ele o fez sem problematizar, sem colocar um grande ponto de interrogação nesta questão, destoando do que se ouve a toda hora por aí.

E exaustos de alegria, assistimos ao show do Binho no encerramento. Chuva veio, chuva foi... e sentimos com muita alegria que fizemos a coisa certa, do jeito certo, na medida certa. 
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Então acabou em festa até às 3h da manhã aqui em casa. 
Próximo ano tem mais.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

fase anfíbia

minha doença está em uma fase anfíbia. movimento-me bem melhor. por outro lado, não consigo fazer muita coisa. sinto uma fadiga "ancestral". e tenho a impressão doída de que nunca mais meus pés e mãos deixarão de estar dormentes. o equilíbrio pé como o andar do Poeminha. tem sua delícia: aprendemos a andar juntos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

2º SILIC

No SILIC, é tudo tão bonito...



está tudo aqui: www.silic.unir.br
10, 11 e 12 de novembro deste ano.
Vai ser bom demais!
E vai me permitir voltar para casa.
Nem que seja por pouco tempo!

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