sábado, 19 de março de 2011

desencanto

ando melodramática. como um cancro que demora. a gente se acostuma. o que me perturba, perturba mesmo. foi a vizinhança com a morte, talvez. ou talvez sempre foi assim. foi mesmo. eu quero poder duvidar. e ao mesmo tempo sentir que é possível acreditar. esta constante crise com as instituições. uma maré à revelia, numa luta surda, embora bem humorada e com longas tréguas. porque sou leitora de Kafka. porque prefiro amar gente - nem todas e nem muitas - a me devotar a algo que é uma laje fria. é porque acredito. e porque duvido. eu tinha muitas expectativas. e ainda as tenho. quase três anos depois, a empolgação é a mesma. mas atravanco às vezes. e expresso o meu desencanto, a minha dor, o meu cansaço. e choro. porque chorar não faz mal a ninguém. é meio ridículo, eu sei. vão me taxar de desequilibrada qualquer hora, se já não o fizeram. mas não me importo. prefiro isso ao equilíbrio frio.  lembrei de uma coisa ontem enquanto me balançava na rede com o Poeminha. no tribunal onde eu trabalhava, todo mundo se espantava com minha postura "nem aí". eu era visceralmente "trabalhadeira". e isso não combinava com minha postura "este não é o trabalho da minha vida". para contrabalançar, eu chegava atrasada, sempre com sono, por causa da insônia. e às vezes de ressaca, porque naquele tempo as noites eram longas e loucas. é que aquilo não me encantava. não me interessava toda aquela gente de plástico, apesar das exceções tão lindas que até hoje perduram. e hoje me vejo na mesma situação. mas a situação é totalmente outra. este é o trabalho da minha vida. e esta doença me empata a ressaca inevitável. mas vou dizer. assim, a dor é bem maior. como disse meu amigo, é que eu fico com vergonha das pessoas que, embora não sejam de plástico, se contentam. talvez sem o saber adotam o discurso mais fácil. e deixam de sonhar. e consequentemente tiram a vontade de outrem sonhar.
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