quarta-feira, 20 de abril de 2011

uma emoção

estive em campo grande, onde nasceu manoel de barros. esqueci minha máquina fotográfica e não tenho registro do lugar. pena. fomos para o eel - encontro de estudos literários da uems. fiquei com a impressão de que vou voltar. adorei as pessoas. de verdade. voltei mais cheia de luz, se é verdade que carregamos um pouco da luz das pessoas.  tão cheia de sonhos.  três ou quatro professores da universidade do estado do mato grosso do sul têm feito uma pequena revolução por lá. e uma revolução que nos pareceu - a mim, sandra, rosana e fátima - uma revolução amorosa. de quem ainda acredita no mundo da letras. e acredita, assim, numa educação para o humano. não disse, por pudor, mas queria ter dito a um dos professores que ele me emocionou como há tempos. e num ato involuntário, que é melhor ainda. eu já havia achado estranho terem tão prontamente nos acolhido, colocando-nos em mesa-redonda e minicurso, quando bem sabemos que em eventos desse tipo toda a atenção que se quer dar são para as "estrelas".  e nós, bem, nós somos professoras na floresta. e eu já disse em algum lugar como é comum pensarem que somos todas descerebradas. 

a emoção veio em razão de: uma pessoa que se parece com aquelas típicas dos anos 1970, deslocada num mundo em que os devaneios são como britadeiras no asfalto, foi um dos conferencistas do encontro, que imediatamente se transformou em um lugar para se ouvir uma voz dissonante. não digo que não fiz parte da plateia que, entre incomodada e desatenta, ouvia os lampejos de beleza daquele moço magro e barbudo, dizendo da dificuldade da travessia, seja da leitura, seja da literatura. 

bem depois, o professor que fez o convite a pessoa contou-nos, com um sorriso cúmplice, de que a conhece há anos. são amigos desde muitos anos. e foi assim que senti a emoção que por pudor não proferi. havia ali um amigo na sua concepção mais genuína. pois ele sabia do risco. sabia que o amigo podia ir por veredas estranhas ao público, sabia que a partir do momento em que ele estivesse com o microfone, os dois estariam expostos, como dois perdidos num deserto muito grande, como são todos os desertos. os dois expostos aos lobos da severidade. e mesmo assim, o amigo correu o risco. isso me fez lembrar que ainda é possível, num tempo precário como o nosso, num espaço regrado como o da Universidade,  gestos como esse, de pura transgressão, de pura aposta no dizer incomum. 

sim. acho que vou voltar. e acho que quero semear sonhos desse tipo. pois isso significa acreditar no humano, por mais diferente que ele pareça ser. 
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