terça-feira, 26 de julho de 2011

Instantes de Itamar Assumpção


o amor que devoto a itamar assumpção explica as quase duas horas em que passei chorando ao assistir a um documentário sobre ele no espaço unibanco da Augusta. Uma daquelas coincidências que arrepiam só de pensar - como é que depois de tanto tempo sem ir a São Paulo vou logo na semana em que está passando um documentário sobre este músico que há tanto tempo está em mim? 

Daquele instante em diante, de Rogério Velloso, é um filme para quem sente falta. E para quem a vida e a música, embora dissonantes, são uma aventura das mais viscerais. É uma homenagem, em que os amores de Itamar estão ali para dizer como ele faz falta. Todos que estiveram ao seu redor parecem demonstrar espanto::: espanto porque ele existiu, do modo como existiu. Ninguém diz, mas é como se dissessem: por que este filhodaputa tão adorado foi embora tão cedo? Daí a carga de emoção - emoção agridoce, palavra várias vezes dita. Não há nostalgia, no entanto. É uma saudade quase raivosa. Ou tão delicada quanto raivosa - o que é uma boa definição também para a sua música. 

Como é que pode um homem que cultivava orquídeas! Como é que pode, não é? É o que penso desde aquela tarde, com um aperto no coração. 
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segunda-feira, 25 de julho de 2011

a maluquete amy

que tarde triste. fiquei tão brava com esta maluquete. como é que ela nos deixa com esta batata quente na mão? este mundo ficando cada vez mais careta, tudo encaixotadinho, politicamentecorreto, os guetos cada vez mais acentuados, até os fumódromos ao ar livre desaparecendo, intolerânciamil, as pessoas cada vez mais feias, aí amy inventa de morrer para dar mais munição a esta gente toda policialesca. tristetristetriste.

lembro do dia em que perguntei, desolada: "tatu, por que não tem ninguém para cuidar dela?" talvez ela não tenha deixado. talvez ninguém tenha tentado. como é que se suporta tamanha dor? ou como ter suporte para as loucuras todas? deve ter sido um inferno. e isso estava muito evidente. mas havia ali um mistério. uma beleza. que vinham daquela voz sofrida. daquele corpo desajeitado. 

eu fico com a impressão de que todos morremos um pouco. que o luto encobriu a todos que amamos a música. a arte. e que o mundo ficou ainda mais feio sem a sua tristeza funda. tudo cedo demais.
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sexta-feira, 22 de julho de 2011

das alegrias de São Paulo

Rio de janeiro ficou pra qualquer outro dia. Eu, Manamácia e Pedro, meu sobrinho, viemos de Paraty para São Paulo. Ficamos uma semana. Falei para mana que, não importava nosso itinerário, seria bom do jeito que já estava sendo. E foi. Viajar tem disto: é preciso estar aberta ao inesperado. Como na vida, deixar livres os caminhos. E aprender com as paradas. 

Foi assim que é provável que eu tenha ido a mais shoppings nesta viagem do que durante todo o tempo que morei por "estas bandas". Não que eu não goste. Talvez seja mesmo o contrário. Eu sou compulsiva - e as inúmeras "coisas" que eu gosto de comprar aos montes estão aí para confirmar. Acho que por isso desenvolvi uma resistência em ir às compras. Porque se vou, para usar a expressão da minha amiga Rô, não passo vontade. Então fizemos comprinhas, várias comprinhas, com direito a uma passagem pela 25 de março. Meu irmão Ferdinando se reuniu a nós durante toda a semana. E a sensação de estar com a família, e de ser este um momento raro, tomou conta de mim. 

Antes que eu achasse que a viagem seria um grande shopping, já estávamos envolvidos em outras delícias. Seguimos, então, meu itinerário pessoal - aquilo que, para mim, faz de São Paulo A cidade, com maiúscula mesmo.  E também visitamos o tio e a tia, aqueles que um dia foram meus tios-sogros. E eu gostei demais de ficar ali perto deles, de contar minhas histórias, e ouvir suas histórias. 

Como estava perto da mana que salvou minha vida, brinquei várias vezes::: "ainda bem que não morri". Ainda bem que pude viver esta semana para guardá-la no meu enorme baú de grandes alegrias.
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

a macumba antropófaga de zé celso

a nudez do teatro de zé celso martinez não espanta ninguém, porque o modo de sentirmo-nos em comunhão com o ritual tribal do teatro de zé  celso é naturalizarmos a nudez. mesmo quando não temos coragem de arrancar as vestes precisamos de alguma forma nos desnudar. e estando bem perto, sentimos todos aqueles odores de gente, de modo que aqueles cheiros são também os nossos. como numa festa, nos entregamos ao delírio da longa noite, ainda que seja dia. é bonito. muito bonito. ainda aqui, senti-me mais uma vez parte de um momento histórico. não tão decisivo quanto a encenação de O rei da vela, que definitivamente mudou os rumos da recepção da obra de oswald de andrade. uma outra cena, é fato, a da macumba antropófaga, que encerrou a FLIP. mas, ainda assim, arrebentadora.  não esquecerei.






domingo, 17 de julho de 2011

oswald e antonio candido


Homenagear um escritor é criar um factóide. E quando é num evento em que ele mesmo é um factóide, tudo fica meio exagerado. Broches, camisetas, canecas, cartazes, Oswald de Andrade estava em todo lugar em Parati. Ainda com meus botões, eu pensei::: e por que não? e se um factóide criar a possibilidade de um escritor não ser esquecido? e se pessoas, a partir de agora, lerem o Oswald, devido a esse falatório todo? Que mal há nisso? Antonio Candido, na primeira conferência da FLIP, apresentou-se como um sobrevivente. E contou histórias sobre o irrequieto Oswald como alguém que sabe que a morte está mais próxima do que longe. Senti-me parte da História - algo como::: não fui contemporânea de Oswald, mas esta voz me faz próxima de sua beleza agridoce. A primeira lágrima de emoção na FLIP veio daí. Da emoção de ouvir Antonio Candido, que, de forma unânime, é o mais influente crítico literário brasileiro, embora a minha formação não tenha me encaminhado para a veneração unânime que todos têm por ele. Diante da sua voz, isso ficou sem importância, porque veio de chofre a certeza de estar diante de um homem que dedicou toda a sua vida à literatura.
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A aula do meu concurso para ingresso na Universidade foi sobre a prosa de Oswald e Mário de Andrade. E sob o risco de ser questionada pela banca, eu pautei meu discurso defendendo a originalidade de Oswald, tão ou mais transgressora do que a de Mário de Andrade. A ideia que tenho de "moderno" é uma representação clara da figura de Oswald - um criador que é também uma obra. Então, eu me senti em casa nesta "homenagem".
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

pola e mãe


A essas alturas, todo mundo que se interessa pela FLIP sabe que valter hugo mãe, escritor português pouco conhecido no Brasil, mas suficientemente reconhecido para ter seu livros publicados pela editora 34 e Cosacnaify, roubou a cena. a sua conversa foi, de fato, muito emocionante. daquelas emoções que tocam em algum ponto muito sensível. que falam do humano que há em nós. ainda não sei se ele é um bom escritor. não li nenhum dos seus livros. mas a confiar no que dizem, e no modo bonito com que ele expressa sua alegria - uma alegria tímida, que mais parece tristeza - de estar na vida, vale a pena ler algum dos seus livros. eu já comprei o(s) meu(s), devidamente autografado. 

depois da emoção, fiquei pensando sobre a reação do público, que, diante de um escritor de tamanha sensibilidade e uma escritora por demais cerebral que dividia a "mesa" com ele - a argentina Pola Oloixarac -, escolheu rapidamente de que lado estava. pois, apesar de ter me emocionado muito com valter hugo mãe, não me vi entre um e outro. achei que eles ocupam lugares diferentes. e que estão em trincheiras que batalham com armas diferentes, não necessariamente opostas. Pola deu a dica: quando hugo mãe expressou sua vontade de ter um filho, ela meio que lamentou a impossibilidade de dizer o mesmo e ter a mesma receptividade do seu colega. Pois uma escritora mulher, ao expressar o desejo de ser mãe, causa mais desconfiança do que acolhimento; o exato contrário do que acontecia ali com hugo mãe. e Pola parece construir literatura desse modo: contra a maré. por isso, a voz na defensiva, as explicações teóricas. as frases frias no jeito tímido. acho que é preciso fazer essas diferenças para acolher um e outro. a literatura de um e outro.
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agora é lê-los. 
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crédito da foto: walter craveiro

quarta-feira, 13 de julho de 2011

longe de casa

longe de casa há mais de uma semana. e longe do meu filho há mais de duas, me vem uma sensação grande de desalento. acordo na noite e fico buscando na mente quantas janelas há na casa da avó e se há telas de proteção. tento afastar rápido o pensamento. desde que me dispus a deixar o Poeminha ficar um mês na casa da avó materna, eu tento "deixar livre" o caminho. já me doeu uma porção de vezes. mas mantenho a serenidade. onde ele está o que não faltam são amor e cuidado. o que assusta, de fato, são os perigos do mundo. o imponderável. como se, perto de mim, eu pudesse protegê-lo de todo e qualquer senão. mas deixei que ele fosse. Poeminha é um garoto extremamente livre, qualquer um percebe de longe. no FALE, ele caminhava entre centenas de pessoas, chamava a atenção de um, de outro, pegava, olhava, subia ali, acolá. a curiosidade a mil: uma lindeza de ver. e quando vejo isso, mais tenho certeza de que é assim que quero ajudá-lo a crescer. dando-lhe a possibilidade, desde agora, de amar outros que não a mim e ao Tatupai. porque gostar de gente ainda é a grande beleza da vida.


poeminha e inildo, a quem ele adora.

com a rosana.

e com a bisa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Em Paraty

Imaginei que daria para escrever todos os dias enquanto estivesse na FLIP. Por isso, o marcador "Crônicas da FLIP". Ocorreu o exato contrário: não consegui nenhum dia. Fiz duas descobertas interessantes por lá: não seria uma boa jornalista nem uma boa fotógrafa, duas profissões que, em tempos diferentes, já quis chamar de minhas. Para as duas, falta-me a disposição do intervalo. Na FLIP, não quis parar nem para escrever nem para tirar fotografias, esta última agravada pelo fato de que eu e minha supermáquina continuamos inimigas de morte. 

Tentei ver o máximo possível da programação, o que, diga-se, não quer dizer grande coisa: para cada programa que escolhi, deixei de ver outro tanto - algo como não ver Ferreira Gullar porque não tenho o dom da onipresença. 

A FLIP foi, para mim, uma lindeza. Fiquei emocionada em vários momentos.  De chorar. De escorrer lágrima. Não me envergonho: se eu tivesse a predisposição de fazer uma crítica negativa a FLIP, eu não teria ido. Aliás, tenho horror as gentes que olham tudo com enfado, sempre com uma crítica sarcástica e aparentemente muito inteligente, que teria o dom de mostrar o "horror" daquilo que os reles mortais deslumbrados não teriam o poder de ver. Eu até sei que a FLIP é, evidentemente, um evento para gentes endinheiradas ou esforçadas (incluo-me nesta segunda categoria, claro) que se dispõem a pagar os tubos por uma hospedagem em pousadas nem tão confortáveis assim. Sei também que qualquer gesto - positivo ou negativo - dos escritores convidados pode virar um factóide que, no momento imediato, circulará em toda a Internet e, na manhã seguinte, estará nos principais jornais de papel ainda em circulação. A Folha de São Paulo tem uma "casa" por lá. Assim como a Companhia das Letras, o Instituto Moreira Salles e muitos tais. E a livraria oficial da Festa é a Livraria da Vila, que, como já falei por aqui, é muito charmosa, mas cobra bem alto pelo seu charme. 

Eu sei de tudo isso, mas não me esqueço do meu primeiro impulso, que era o desejo de ir, o que,em outras palavras, significa "aceitar as regras do jogo". Foi assim que a trupe de cinco - Rosana, Nilza, Pedro, Manamácia e eu vivenciamos estes cinco dias: com olhos livres, como dizia Oswald de Andrade, o homenageado da vez.
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Depois da FLIP, sobre a ida para a FLIP

Há uma certa histeria na FLIP, é inegável. Pude sentir bem isto quando tentei comprar os ingressos para assistir às conferências. 40 minutos depois de aberta a “bilheteria” virtual”, praticamente tudo estava esgotado, restando apenas a “Tenda do telão”.  É provável que seja um saco assistir às conferências na tal tenda, mas o fato é que, movida pela histeria, comprei vários ingressos, não só para mim, mas também para quem vai comigo.Não sei bem o que fazer com os tais ingressos, se assistirei realmente às conferências, ou se apenas perambularei por lá, fingindo ser rica (já que tudo, dizem, é o “olho da cara”) e fingindo ter lido todos aqueles escritores, embora eu não conheça a maioria.

Simbolicamente, quero que a FLIP instaure um novo tempo na minha vida. Estou decidida a me voltar cada vez mais para o ato solitário da leitura. Gesto esquisito o meu. Marcar a busca essencial da solidão no meio da multidão. Tem explicação não. Só se explica porque quero voltar, nem mesmo sei se quero ir, para pôr logo em prática minhas novas determinações.  Ser “promoter” de eventos é por demais cansativo. E é assim que me senti neste semestre que findou:  a concepção do FALE é linda, mas a sua realização é estafante e contraditória.

Então, eu vou com o espírito de reclusa, atrás da leitora que a professora universitária me tirou. 
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