sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Deslumbres em mim

Olga dias desses escreveu que não gosta de gente deslumbrada. Eu fiquei meio cabisbaixa, porque eu gosto muito da Olga. Gosto quando ela aparece por aqui. E quando eu apareço por lá e tem algo bom de ler e de sentir. Então, eu pensei em dizer que tenho deslumbres em mim. Uma forma de abrandar a palavra chã e mal vista = deslumbrada.

Tenho deslumbres. e estou convicta de que a vida precisa de deslumbres. ar blasé, pra quê, se quase sempre este vem acompanhado de um fastio da vida? de uma falta de curiosidade? de tesão? falta sede neste mundo, Olga. Falta gente que sinta cócegas na barriga. Eu mesma, vez em quando, ando tão sem sentimento. E fico tão infeliz quando isso acontece::: quando não há deslumbres em mim, quando não desejo.

Sabe do que gosto? Quando fico maravilhada. Quando faço alguma merda que me satisfaz. Quando meto o pé na jaca, sabendo que não devo. Estou mais ponderada, é vero. Mas porque estou tentando ver lá na frente. Lá na frente, cheia de deslumbres com o porvir.

Olga, não deixe de gostar daqui por causa disso. Não deixe. Eu tenho deslumbres quando leio você. Fico doidinha me perguntando como você consegue::: ler tanto, ver tanto, escrever tanto. E penso que é porque você vive cheia de deslumbres.
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

o real é a imagem?

os livros trazem a nossa história. traem a nossa história. contam aquilo que somos e o que queremos ser, sem meio-termo. esta pilha, mesmo. vale toda uma história. a parede, por exemplo, não é mais vermelha. trocamos por um cinza-verde, se é que. nem os livros estão mais aí, embora continuem empilhados com o "Santos Dumont" em cima. esses livros - como promessas cumpridas e outras arrastadas pelo tempo - testemunham meu amor pela fotografia, pelas artes plásticas, pela dança, pela literatura. é muita coisa. por isso eu sou especialista em nada. uma amadora. aquela que ama.  não me importo. o fato de ter pouca memória talvez seja o que me impeça de "arrotar" conhecimento, embora eu ache que tem gente que me olha como se eu fosse o ser mais nojento do mundo. ainda bem que estes nada me dizem. 

mas não era sobre isso que eu queria falar. lembrei desta fotografia por causa de um intelectual mexicano que eu encontrei há poucos dias. além de me mostrar que mexicano realmente gosta de comida apimentada e de beber umas biritas, ele me deixou pensativa por vários dias. eu lhe fiz pergunta mais óbvia impossível: se lá Frida Kahlo era tão incensada quanto aqui. ele respondeu que sim. mas o que me causou admiração - ou incômodo - foi vê-lo falando de Frida tal e qual a representação que dela temos no filme de Julie  Taymor. 

supostas razões do incômodo:::: Picasso, quando pintou o quadro horrível de Gertrude Stein, vaticinou que ela ficaria cada vez mais parecida com o seu quadro. e assim foi. coitada. se a suposta representação da realidade é sempre um incômodo para os puristas da arte, que negam qualquer relação direta, eis aí o que poderia ser outra "pedra no sapato", mas que, de fato, é visto como um dos "poderes" da arte: a capacidade de transfigurar o real, que passa a ser visto pela lógica da imagem. Frida, a partir do filme, passou a ser - até mesmo para os mexicanos, foi o que constatei - aquela mulher exótica, corajosa, capaz de suportar tantas dores - físicas e psicológicas - transformando tudo em arte. sua pintura poderia muito bem já comprovar tais predicados, mas foi preciso a força massificadora do cinema para plastificar de vez Frida, tornando-a um mito. talvez meu incômodo tenha vindo desta perda de singularidade, do fato de um mexicano falar de Frida do mesmo modo que uma brasileira, como se não houvesse mais nada para ser dito além do que o filme já havia dito. neste sentido, não deixa de ser triste essa massificação.
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

sobre as birras e o amor

com filho não adianta fazer birra. e eu sinto, por experiência como filha e como mãe, que é o que as mães mais fazem. as mães são aqueles seres abomináveis que querem tudo dentro da ordem, inclusive, ou sobretudo, o filho. e eu lhes digo que Poeminha não é de brincadeira. a palavra que ele mais fala é "não". e duvido que seja por imitação. é para tripudiar em cima das minhas birras.
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de novo.
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eu pirei por umas duas semanas. pirei mesmo. falei falei falei - atrás de conselhos, que não sou boba. eu seguia o manual. manual da mãe quase mamífera. mas aí o filho deu piruetas. acordou outro de um dia para a noite. nada de comer. nada de querer dormir na hora certa. e um tal de querer escalar de querer se lambuzar de querer espernear. birra birra birra. e eu? birra birra birra. só quando chacoalhei meu filho é que caí na real. quemerdaeuestoufazendo? aí, eu me acalmei. ele, nem tchum. mal percebeu minha chacoalhada. achou que eu estava brincando. mas chorou sentido quando eu, birrenta, tirei-o do banho antes que ele achasse que era a hora. mas tem hora? que a natureza me perdoe o desperdício de água, mas vou deixar meu filho tomar banho o tempo que ele quiser - e foi o que fiz. coloquei sandálias havaianas nos seus pés, para diminuir o perigo de quedas, postei-me no vaso ou no sofá próximo e lá no banho ele tem ficado sob os meus olhos quase atentos. fica lá com seus bonecos, criando seu mundo imaginário. quando ele quer, sai atrás de mim, todo molhado, pingando tudo, aí eu o pego nos meus braços, dou muitos beijos e vamos, juntos, desligar o chuveiro. depois, eu saio secando a casa.
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eu não vou ser birrenta com meu filho. não vou mesmo. já basta todo o resto que quero dentro da ordem. não vou meter medo nele. não vou gritar nem bater nem chacoalhar só porque não sei exatamente o que fazer. quem me lê aqui sabe que vez ou outra eu digo que fui uma criança muito sofrida. eu era doente e minha mãe era muito ocupada. e eu não preciso repetir essa história. não com meu filho que até agora tem uma saúde de ferro. nem por isso estou com medo de criar um reizinho mandão. não estou mesmo. eu não sou boba, é isso que penso. eu vou aprender a ensinar tudo pela via da delicadeza. porque tudo que mais gosto em mim veio daí::: da delicadeza. e tudo que não gosto veio das brutalidades que a vida me impôs. vou acertar o "tom". já estou acertando. entre o sim e o não, a palavra doce. o eu te amo incondicional. a "sorte" - "que sorte, filho, você existir". não paro de repetir isso a ele. nem sou avara com "eu te amo". e com os abraços todos.
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e por que? porque nada, nem ninguém, me emociona mais do que partilhar a existência desse ser. e se há toda uma cultura da ordem, todo um medo de fazer errado, de dar errado, há, sobretudo, o amor que eu sinto por ele. e é com esse amor, e não com o modo como fui criada, como fui pouco amada, que eu vou caminhar. vou caminhar com este imenso amor. com este amor imenso que sinto por estes dois homens que - cópias um do outro - completam os meus dias.
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as imagens me dizem que vale a pena. um "vale a pena" refletido e amoroso. alguém duvida?




domingo, 11 de setembro de 2011

conferenciazinha no eell

estive num encontro de estudos linguísticos e literários (eell), da unemat, em pontes e lacerda. bem aqui, pertinho. fui sozinha. ou quase sozinha. meu amigo leandro foi também. meu chefe, aliás. de departamento. quase, porque nos vimos muito pouco lá. eu mesma só desenfurnei do hotel no dia da minha conferência*. coisa esquisita é gente que tem que falar sério. fica enfurnada em hotel achando que precisa descobrir o ovo de colombo. diferente de fazer comunicação, é o que quero dizer. que é coisa de 20 minutos. ideias para uma hora e meia de palavrório chegam a dar dor de barriga. não. que isso não tenho. tenho é um coração acelerado.  tipo sair pela boca sem tempo de alcançá-lo. 

a melhor parte foi ver a marinalva e nossa tetê, minha afilhada. segunda vez que encontro mari este ano. feliz. estamos felizes, as duas. dá pra crer? tanto desassossego para encontrarmos a felicidade em dois serzinhos que berram a qualquer hora. coisas de mãe. mas o desassossego permanece. por vias mais secundárias, mas permanece. eu não nos desconheço. pelo contrário. quando nos encontramos, somos mais nós do que tudo. é porque nos misturamos. uma sabe da outra. e agora, com a distância, sabemos apenas das lindezas uma da outra. aquela vontade de ficar mais perto um pouquinho mais. 

e a conferência, foi. falei sobre a figura pública do escritor na atualidade. ou melhor, na artefatualidade e na ato-virtualidade. gostei demais. assim. gostei de fazer o texto. de fazer daquele jeito. de forma inédita::: nas manhãs. antes, chorei um pouquinho, escondida, porque não dava conta de fazer como sempre faço, nas madrugadas. angústia de ver meu ser mais ser morto de sono. fiz o texto indo contra a corrente. ou achando que estava contra a corrente. contando uns causos das minhas leituras recentes e nem tão recentes.  eu queria mesmo era ter mais tempo para formalizar b-e-m d-i-r-e-i-t-i-n-h-o o que ando pensando, lendo, tentando ler. mas o que eu queria mesmo m-e-s-m-o era um povo mais atento, mais feliz, por ouvir. e ouvindo, querer falar. hoje os cursos de letras carecem de veias. mas isso é assunto pra outra hora.

não tenho nenhum registro fotográfico. e é porque levei a máquina... fica aqui, então, no meu artefato de memória. 
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* foi a linda mariana responsável pelo convite. merci!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

a vida e as poses sem pose

 sim. bastante narcisismo. esclareço::: são praticamente as únicas "poses" de um mês de férias. férias que existiram porque eu não morri. vez ou outra, eu solto o besterol sincero: !ainda bem que eu não morri!





qual é a parte bonita da vida? toda ela. fez um ano que eu quase morri. adoeci no mês do cachorro louco. um mês com um histórico enorme de dores nas minhas entranhas. nada, se comparada aquelas. como é que pode o ser humano ser tão resistente a dores tão imensas? às vezes, ainda acordo no meio da noite como se estivesse sendo esfaqueada por aquelas facas imaginárias. o menor movimento e era como se todo meu sangue escorresse. e agora o agora. apenas há pouco mais de dois meses, meus movimentos parecem normais. e eu posso pegar meu filho do chão e tomar banho com ele enganchado na minha cintura, como um dia fiz com minha sobrinhaamada. 


é por isso que não gosto das marcas sujas da vida. daquelas em que é possível estar distante. porque existe o imponderável. e o imponderável pode ser a morte. a possibilidade da morte. acho que sempre soube disso. e por isso tive certeza de que morreria. como alguém com tanto apego à vida teria a dádiva de uma vida longa? desde lá, eu vivo assaltada pelo medo de que outro imponderável irrompa. que outro roube a alegria do que agora é meu::: o sorriso do Poeminha, os cabelos espessos do Tatupai e as lindezas que por aqui passam (as nossas meninas seguindo o destino da literatura!). 


mas eu sinto, bem aqui em mim, que este medo também vai passar. que a vida dure muito, que dure pouco, o que importa mesmo é que eu  esteja por aqui, inteira, naquilo que me faz tão cheia de surpresas e obviedades. mas se houver este roubo do que agora me é mais caro, eu ainda sinto que preciso justificar a minha segunda vida. sem lamúrias. sem meios-termos. sem condescendências comigo. se vivo, vivo. e é por esta vida, por estar viva, que eu devo continuar batalhando, sem titubear. 
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