sexta-feira, 23 de setembro de 2011

o real é a imagem?

os livros trazem a nossa história. traem a nossa história. contam aquilo que somos e o que queremos ser, sem meio-termo. esta pilha, mesmo. vale toda uma história. a parede, por exemplo, não é mais vermelha. trocamos por um cinza-verde, se é que. nem os livros estão mais aí, embora continuem empilhados com o "Santos Dumont" em cima. esses livros - como promessas cumpridas e outras arrastadas pelo tempo - testemunham meu amor pela fotografia, pelas artes plásticas, pela dança, pela literatura. é muita coisa. por isso eu sou especialista em nada. uma amadora. aquela que ama.  não me importo. o fato de ter pouca memória talvez seja o que me impeça de "arrotar" conhecimento, embora eu ache que tem gente que me olha como se eu fosse o ser mais nojento do mundo. ainda bem que estes nada me dizem. 

mas não era sobre isso que eu queria falar. lembrei desta fotografia por causa de um intelectual mexicano que eu encontrei há poucos dias. além de me mostrar que mexicano realmente gosta de comida apimentada e de beber umas biritas, ele me deixou pensativa por vários dias. eu lhe fiz pergunta mais óbvia impossível: se lá Frida Kahlo era tão incensada quanto aqui. ele respondeu que sim. mas o que me causou admiração - ou incômodo - foi vê-lo falando de Frida tal e qual a representação que dela temos no filme de Julie  Taymor. 

supostas razões do incômodo:::: Picasso, quando pintou o quadro horrível de Gertrude Stein, vaticinou que ela ficaria cada vez mais parecida com o seu quadro. e assim foi. coitada. se a suposta representação da realidade é sempre um incômodo para os puristas da arte, que negam qualquer relação direta, eis aí o que poderia ser outra "pedra no sapato", mas que, de fato, é visto como um dos "poderes" da arte: a capacidade de transfigurar o real, que passa a ser visto pela lógica da imagem. Frida, a partir do filme, passou a ser - até mesmo para os mexicanos, foi o que constatei - aquela mulher exótica, corajosa, capaz de suportar tantas dores - físicas e psicológicas - transformando tudo em arte. sua pintura poderia muito bem já comprovar tais predicados, mas foi preciso a força massificadora do cinema para plastificar de vez Frida, tornando-a um mito. talvez meu incômodo tenha vindo desta perda de singularidade, do fato de um mexicano falar de Frida do mesmo modo que uma brasileira, como se não houvesse mais nada para ser dito além do que o filme já havia dito. neste sentido, não deixa de ser triste essa massificação.
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