segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O espirito da prosa, de Cristovão Tezza

Numa viagem para Campina Grande, dei conta de ler dois livros e boa parte de um outro. Morar na mata cria distâncias medonhas: 30 horas de deslocamento. Li Faca, de Ronaldo Correia de Brito e O espírito da prosa, de Cristovão Tezza.  Estou tentando escrever sobre minhas leituras. Tentando enquadrar no sistema as minhas leituras e a minha escrita. Mas isso é assunto para outra hora. Por agora, fico com O espírito da prosa, de Cristovão Tezza. 

É um livro casmurro. Um livro de quem passou a vida tentando descobrir por que alguém vira escritor e apenas, agora, ainda que com desconfiança, parece ter encontrado alguma resposta. Tezza, muita gente sabe, é o autor de O filho eterno, que há uns três anos causou alvoroço no mundo da crítica, levando todos os grandes prêmios na área. Também senti um certo  alvoroço e, modéstia às favas, embora ainda estejam em minha gaveta, penso que escrevi algumas das palavras mais acertadas acerca do livro. Mas isso também é assunto para outra hora. 

O espírito da prosa. Se os críticos se detiverem sobre esse livro, Tezza vai levar umas boas cacetadas.  Não é um livro pra agradar. Com a mesma virulência com que fala de sua formação, com o mesmo descrédito que dá as suas primeiras tentativas de escrita, ele disserta sobre a literatura brasileira, sobre o que a constituiu, apontando como se sentiu sempre muito distante das grandes verdades de nosso tempo. Um inadequado. Abarca, para si, uma vontade de realismo. Ou um realismo. E diz que foi assim que pôs em pé suas personagens e sua literatura.  É um ensaio não sobre a literatura, mas sobre como ele, de forma persistente, colocou-a em sua vida.

Concordo com ele num ponto que, ultimamente, volta e meia vira pauta de discussão no meu entorno: a adesão irrestrita à ideia do apagamento do sujeito - e da representação - na literatura funda-se sobre uma inconsistência. Há muito o que se discutir sobre isso, sobretudo se pensarmos sob que bases esse pensamento foi constituído. Talvez ele tenha razão, e aderir sem nenhuma discussão a esses dois apagamentos seja de fato negar toda a história da prosa. Para pensar.

Agora dá para entender um pouco mais como ele conseguiu escrever um livro como O filho eterno. Há uma sequidão nas suas escolhas, e mesmo uma tristeza modelar. A mesma que compõe a sua literatura que, claro, não se resume apenas ao seu hit parade, mas a outros que igualmente valem a pena serem lidos. Eu aponto apenas três que já li: O fotógrafo, Juliano Pavolini e Trapo
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