quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Arquivo 3: bienal de artes de são paulo


o título da bienal expressava bem o momento pela qual as artes passam. há uma generalidade do risco, como parece afirmar o título: a iminência das poéticas. como já disse: um título muito bonito, que nos evoca a tomar uma posição, a refletir sobre a nossa própria posição em relação às artes. o que queremos hoje das artes? o que esperamos? o que dizemos? o que ouvimos? lemos? vemos? num mundo com tantas imagens, quais escolhemos? penso que a única saída para não entrarmos na generalidade das afirmações seria pensar sobre a nossa disposição de compreender o fazer de cada artista; buscar ali, nas propostas, o diálogo que estabelecem (ou não) com as questões do presente. e foi o que tentei fazer.  

Como define o curador Luis Pérez-Oramas no texto que abre o catálogo::: "A iminência é a atitude da espera: esperar palavras das imagens; esperar imagens das palavras. E em outro momento::: "A iminência é nosso destino: o que não sabemos, o que acontecerá e está além de nós, independentemente de nossas faculdades, histórias e decisões". Este texto, que li após ter visitado a bienal por dois dias seguidos (com tantas atividades não vi os outros espaços além do prédio da bienal) é tão próximo do que tenho refletido sobre a contemporaneidade que por diversas vezes me deixou embasbacada, como se::: "é o que eu teria escrito, se soubesse".

Porque (sinto) há um movimento, ainda quase imperceptivel, de pôr em dúvida o que está aí posto como verdade, naquilo que diz respeito a um certo desprezo pelas poéticas a favor das políticas, como se desde sempre uma coisa não estivesse agarrada a outra, como se de repente coubesse às poéticas cuidar de todas as dores do mundo, fazendo deste mundo um globo miniaturizado (não seria isto a chamada globalização?). Não à toa a palavra poética, que parecia já uma palavra proibida, tem aparecido aqui e ali. E por mais que fosse difícil constituir uma ideia ante uma quantidade tão grande de artistas e obras, era perceptível a "sobriedade" que recobria a proposta, dando-me mesmo a impressão de que havia ali um conjunto de artistas que deliberavam sobre umas tantas concepções apressadas que revestem nosso tempo. E quando parecia que a bienal estava destituída de emoção (como a que senti naquela que chamei de "bienal do vazio"), surgia-me um artista que me tirava um pouco o meu chão, como  Hans Eijkelboom, Guy Maddin, Eduardo Berliner, ciudad aberta e, claro, Arthur Bispo do Rosário, que assim como outros deixa em todos nós aquela interrogação infinita:::: para ser artista, é preciso ter consciência do ser artista?" 

O que mais gostei foi o fato de poder se "demorar" sobre um artista, não apenas devido à ida dois dias seguidos, mas porque havia como que uma pequena exposição de cada um. Para uma amadora como eu, isso gera um outro movimento::: além do querer ver, o querer conhecer, o querer pensar no diálogo que cada um dos artistas acaba por realizar com outro.



ps1.  (Fiz uma pequena sessão de "pessoas no museu". Sempre este gosto por ver - também - o movimento das pessoas enquanto veem ou passam). 

ps2. (Mariamada passou todo o dia comigo e com a Rô. Vimos juntas parte da bienal. E nos dois dias seguintes, perambulamos em São Paulo. Relembramos um pouco nossas tantas viagens - das quais sinto muita saudade).


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