segunda-feira, 25 de março de 2013

a aridez


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Nosso hino canta essa aridez
- um canto cavo e pesado
feito de sopa, cipó e aço
que afoga os cantores

(Nuno Ramos)

cada vez que algo bem pancada acontece, meu primeiro gesto é ficar meio histérica, falando pelos cotovelos, pensando mil vez mais rápido do que a capacidade humana pode suportar. mas meu segundo gesto, que - ainda bem - vem sempre de forma rápida, quase um tiro certeiro na histeria, é embarcar no meu imaginário. ou seja:::: acionar que sou uma pessoa para quem a arte conta.

isso me leva a buscar bem longe de mim as soluções para a incompreensão. com o tempo descobri que a amargura não passa. ando cada vez mais descrente com as pessoas no mundo. cada vez mais uma dúzia e meia de pessoas são as que me protegem. e cada vez é mais difícil acrescentar alguém a esse grupo seleto. sinceramente, não era isto que queria para mim.

não sei se foi o percurso, mas a descrença não me faz querer embrutecer. só assumir que, sim, há muito gente que me são desprezíveis. que me são. mas há a literatura. sempre há. e há a música. e há os filmes. todos esses dramas que, exteriores a mim, devolvem o meu interior.  
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não se pode amar a arte, qualquer que seja ela, sem reconhecer - ainda que de forma parca - a condição humana e tudo que há nela de inapreensível. é como enrolar esta corda::: deixá-la a serviço da próxima ação; isto é, pronta para desenrolar. lembrei agora dos dias em que li Barba ensopada de sangue. foram dias felizes, ainda que tudo que há ali de inapreensível me intrigasse. lembro dos dias que li. e me vem uma vontade de me afastar, como um recomeço que por ora me é interdito
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