domingo, 17 de novembro de 2013

Anotações para futuras postagens

[1]
Sempre que fico um tempo com minhas irmãs, ou fico muito eufórica, ou muito pensativa. Ou alterno os dois sentimentos. Sempre me assombro com as semelhanças, inclusive físicas. Nestas horas, é quando penso como há muito de "determinação" nas nossas atitudes diante do mundo. Daí, a razão dos dois sentimentos. Já pensou poder colocar toda a culpa na genética? seria a glória. o problema é que não é só uma questão de culpa. Também há o pensamento. E na mesma medida em que vejo, nas minhas irmãs, a configuração dos meus entraves, vejo também as minhas levezas, embora estas, menos. O que será mesmo de mim? O que me distingue? Prometo escrever sobre isso depois.

[2]
Sou tão gastona como a minha mãe. E digo isso sem orgulho. Acho que muito do olhar impiedoso da minha mãe sobre nós advém das necessidades que os desejos materiais impõem. Isso de precisar de dinheiro para comprar. Eu tive mais sorte do que ela no quesito salário. E também tive mais sorte em relação ao que esperar do outro, pois desde muito cedo me veio uma espécie de certeza de que apenas eu deveria ser responsável pelo meu sustento e, consequentemente, pelos meus excessos. Quando eu ainda me orgulhava de ser gastona, eu costumava dizer que era uma mulher cara, com a vantagem de que me bancava. Agora, eu queria ser menos gastona com coisas materiais. Ando sentindo cada vez mais vontade de ter dinheiro para cair no mundo, o que tem sido cada vez mais difícil; agora que sou também uma família.

[3]
Fico abismada como há cada vez menos público para a cultura. Vejo aqui na mostra de cinema que promovemos no campus de Vilhena da Unir - que nunca se pareceu com um campus, mas cada vez mais me parece um depósito de pessoas que não sabem exatamente o que querem - mas sabem com certeza que não querem o que um curso como o de Letras pode oferecer. Mas vejo também em outros lugares. Minha família também vive ao largo de uma certa movimentação cultural que há em Porto Velho, coordenada pela prefeitura e pelo Sesc. Acabei de chegar de lá e senti bem isso. Havia poucas pessoas no I Festival de Arte e Cultura, promovido pelo Universidade. Às vezes, penso que isso não deveria me incomodar, mas incomoda. Sobretudo, incomodam-me os jovens presos aos seus celulares e a uma vida em que o horizonte de coisas cotidianas interessantes parece se resumir a jogos nos seus celulares. Penso, às vezes, que todos estão usando esta prótese, porque no fundo sabem o quanto são desinteressantes, o quanto não sustentam uma conversa, pois não têm nada a dizer a quem está ali do lado. Estou mesmo ficando velha. Mas não o suficiente para esquecer que, embora fosse menos falante do que hoje, sempre tinha o que dizer a quem estava ao meu lado. Agora, o que tenho vontade de dizer já não há mais quem ouça. Também já não consigo alcançar a quem realmente queria, mesmo a alguns a quem amo de amor grande, mas que os dias distantes tiraram a intimidade.

[4] 
Algumas amizades ficam intactas no decorrer dos anos. Ter encontrado a Márcia, o Binho, a Ida, o Manu, nestes dias me confirmou esta grande alegria. Não que seja como antes, mas o fato de ser quase como antes, de ainda haver uma cumplicidade grande que nos permite dizer as maiores besteiras sem nenhum constrangimento, que nos deixa contar antigas histórias às gargalhadas, rindo de nós mesmos, já é uma façanha e tanto. E há também outras pessoas bonitas que me dão muita vontade de investir na amizade, embora eu seja meio ruim em fazer isso, como o Dudu e a Mariana. E ainda aqueles que sempre que vejo de longe, tenho certeza de que se fosse menos desatenta - ou menos tímida nas abordagens - gostaria muito de ser amiga, como Rinaldo e Deivis. E há os que rodeiam todos eles e que me enchem de ternura. São muitos. Carla, a quem sempre acho que deveria conversar mais, Fernando que me parece tão bonito, Ariana, tão doce e tão forte, Joéser, artista tão inteiro. Edinei, que amo tanto de coração. E tantos, tantos outros.

[5]
Chorei quando vi alguns dos "envolvidos no mensalão" entregando-se à polícia. Ao mesmo tempo que precisamos de uma noção tão movente como Justiça, dá um certo terror averiguar como o ser humano é frágil diante de decisões que se vestem sob o manto da justiça (e um caso de foro íntimo nestes dias só aumentou minha perplexidade!). Acho que levaremos muitos anos para entender o que realmente aconteceu, mas tenho a firme convicção de que não é nada disso que a grande mídia tenta nos vender. Joaquim Barbosa não é o salvador da pátria. E nestas horas, penso nas nossas profundas mesquinharias individuais, nos nossos grandes abismos, e só consigo pensar que tudo é obra do humano, que por sua própria natureza não tem como ser salvador de nada.

[6]
O livro que estou lendo é O remorso de baltazar serapião. Ontem, depois de umas cinquenta páginas, no ônibus, tive que parar. Era terrível demais o que lia. Como mulher, senti todos os meus "buracos" expostos, sob perigo de serem violados. Que livro é este, jesuscristinho? Que condição é esta, a nossa? Chorei choro mansinho. Não queria assustar ao Poeminha, que dormia tranquilo ao meu lado. Fazia tanto tempo que um livro não fazia isso comigo, de me fazer chorar, assim, sem vergonha nenhuma, sem nenhum melodrama. De me obrigar a parar porque não tinha condições de continuar.

[7]
Tatupai acaba de me ligar. Diz que, na ilha, sentiu uma saudade danada de nós dois. De mim e do Poeminha. Ficou imaginando que se algo acontecesse conosco, ele estava na condição de não ter como saber. Penso que ele sentiu algo próximo ao que sinto a cada vez que lembro que fui para a mesma ilha sem levar o remédio de alergia do Poeminha. Faço mil cálculos mentalmente tentando calcular se, diante de uma crise, teria como salvar meu filho sem o tal remédio. E a cada vez vejo que, devido à distância, não tinha e me mortifico diante do ser avoado que sou. É loucura. Mas vou dizer que é loucura advinda de um sentimento de amor desmesurado. E quem tem a sorte de ter amores desmesurados? Pois é assim.
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Sobreviveremos todos, não tenho dúvida. Talvez pela lógica reinante no mundo, sejamos uns perdedores, uns avoados diante das ordens práticas do mundo. Para mim, somos uns sonhadores. Da estirpe dos que não se desgarram dos seus sonhos diante das monstruosidades. Da estirpe dos que, diante de janelas fechadas, consegue tirar dali alguma beleza.
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2 Palavrinhas:

Unknown disse...

Muito lindo tudo o que você escreveu! Parabéns você uma figurara que não tem preço!

judilene disse...

parabéns querida.lindo mesmo tudo que você escreve.