terça-feira, 5 de novembro de 2013

kubrick no mis

Eu só tinha um parâmetro de comparação sobre a exposição da obra de um cineasta.  Em 2006, vi uma exposição sobre Pedro Almodóvar na Cinemateca Francesa - que até agora me parecia insuperável. Mas ao ver a de Stanley Kubrick, neste ano, no MIS, fiquei tomada por uma emoção intensa. 

Diante da exposição, e dos filmes, de Kubrick, é fácil perceber o cinema como uma arte que ergue tijolo a tijolo novos mundos, como se fossem do nada, embora sejam tão semelhantes ao nosso. Apresentam, no entanto, uma diferença radical, porque regidos por um gesto autoral que faz de cada detalhe um material para se pensar. Há uma assinatura Kubrick; uma assinatura que nos confronta, em geral, com o que há de mais inominável no humano.  E o fato de cada um desses mundos [desses filmes] ser rigorosamente distinto um do outro, é o que mais impressiona. Difícil um cineasta que tenha feito filmes tão distintos uns dos outros e que, ainda assim, seja (re)conhecido em cada um deles. Fiquei um pouco tonta. E ao mesmo tempo, inteira alegria. Nos espaços que foram montados para cada um dos filmes, há um rico material: roteiros originais, objetos, câmeras, muitos vídeos e fotografias; verdadeiras paisagens fílmicas. O fetiche do objeto. E na passagem de cada espaço, cortinas pesadas de veludo escuro. Ao fetiche do objeto acresce-se o fetiche do gesto, levando-nos por um labirinto de sensações, de imagens difusas dos filmes, das sensações provocadas por elas.  

E só uma criança para ver com toda a inteireza o quanto a marca da violência em Kubrick é também lúdica. Poeminha, que havia ficado muito entediado na exposição de Lucien Freud, no Masp, entrou e saiu das salas da exposição interagindo com tudo, com uma curiosidade sempre crescente.









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