domingo, 15 de dezembro de 2013

Azul


Assisti à "Azul é a cor mais quente" numa tarde quente, reconciliada com uma cidade que desde sempre me estranhava. E quanto mais penso nele, no filme, mais gosto. Primeiro, ele me causou uma tristeza profunda, que veio de algum lugar pelo qual todos já passamos, o lugar de um grande amor que, apesar de ser grande, acaba por não dar certo. Não pensei em nenhum amor em especial, mas no próprio decurso da vida, na dificuldade dos dias, na exigência da vida, na falta de perdão do erro. 

É bonito e é bonito. Nada no filme de Abdellatif Kechiche é gratuito, nem mesmo, ou sobretudo, a tão comentada cena de sexo entre as protagonistas, Adèle e Emma. Caetano viu um certo esteticismo, que tem mesmo. Eu só consegui pensar, enquanto assistia, que todo ser vivente no mundo merecia ter sexo dessa maneira. E sim, sexo; sem eufemismos como "fazer amor"; sexo na mais pura carnalidade, capaz de levar ao êxtase e perdurar mesmo quando o amor acaba. E a cena no restaurante, em que as duas se encontram (perdão pelo spoiling), é a prova disso.  

É um filme que não pode prescindir dos seus atores, no caso, atrizes, pois seus rostos são de tal modo violados que chega a causar incômodo. Vem daí a proximidade que logo nos leva a pensar analogicamente. E esta talvez seja a grande tacada do filme. Só uma mente muito encaixotada colocaria o filme no gueto de filme gay, no intuito de diminuir seu alcance, embora a questão da homossexualidade feminina esteja ali o tempo todo. Quando as colegas interrogam Adèle, sentimos  o peso do preconceito e as odiamos veementemente. Dizer que é uma história de amor também não diz exatamente sobre o filme, embora, mais uma vez, seja uma afirmação exata.

Daí que o que realmente impressiona é o fato de, durante três horas, num filme com o elenco basicamente jovem, mantermo-nos presos a sua história, sem sentir o tempo passar. Por mais que enquanto assistia eu não pensasse nisso, somente um bom filme, que se utilize de todos os recursos para tanto, é capaz de nos prender desse modo. É o detalhe, como o azul, como uma cena que remete à outra e à outra, o trunfo deste filme. O detalhe é a sua beleza. 
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