quarta-feira, 12 de março de 2014

abaporu




tenho um sentimento muito indefinível de pertencimento::: não sou daquelas que apregoa que o brasileiro é o melhor povo do mundo, porque quando ouço isso tenho sempre a impressão de que esse pensamento expressa uma mal disfarçada intolerância com a diferença. mas sou daquelas que o coração dispara quando vejo um "pedaço" do Brasil em algum lugar. 

daí que o coração deu um salto quando vi Abaporu no MALBA - Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires. sim, existe uma emoção ao ver pela primeira vez o que já foi mil vezes visto. o outro nome da aura. ver ali, no museu, em seu tamanho real, o que tantas vezes vi nos livros. toda uma história da arte brasileira, mas também da literatura, percorre esse quadro. e é por isso que parece que sabemos tanto sobre o quadro de Tarsila. do mesmo modo que achamos que sabemos muito de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade. quanto a mim, aprecio, desde muito, o ar de rebeldia que parece ter havido ali, naquele exato momento em que o "grupo modernista" reconheceu nosso provincianismo e tentou estancá-lo. deve ter muito de romantismo nesta ideia, mas é talvez devido a esse romantismo que deslumbra apreciar Abaporu.

fiquei, então, com este saber esparso que é uma parte da minha história de leitora, de professora de literatura. a lágrima no olho veio fácil. e é isso que a "primeira vez" das "tantas vezes" deve significar. ela dá sentido a um pertencimento feliz. uma pertença que sabe que o que nos pertence é, de fato, do outro. deve ser o mesmo que sente os mexicanos ao ver um autorretrato de Frida Kahlo, que está logo ali, perto de Abaporu.
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1 Palavrinhas:

Anônimo disse...

Vi Abaporu no Rio de Janeiro. De fato, muita razão, Mi! Muitas vezes visto e, ainda assim, emocionante olhar o original! Em um outro país então!