quinta-feira, 20 de março de 2014

Liliana Porter - El hombre com el hacha y otras situaciones breves











Aqui tudo parece
que era ainda construção 
e já é ruína
(Caetano Veloso)

o que mais impressiona no trabalho de Liliana Porter, artista plástica argentina, que está com a exposição "El hombre com el hacha y otras situaciones breves", no Malba, não é exatamente a dimensão diminuta de suas personagens, mas o que elas, na sua pequenez, provocam. o sujeito é o que desencadeia as ações. e embora exista um ou outro gesto de construção, na maior parte das vezes, o que se produz são destroços. os rastros do homem, assim, de modo geral, são relacionados ao seu enorme poder de destruição. é lúdico apenas para o olhar desatento. o caminho que o humano percorre, e o que ele provoca, é quase sempre devastador. o tamanho e a quantidade das ruínas parecem estar sempre em desalinho com a dimensão do homem. seria fácil criar uma visão redentora do ser humano, como a que às vezes criamos do homem perante a natureza, mas o enorme lastro vermelho que a mulher espalha, numa das cenas mais significativas da exposição, deixa claro que não se trata de redenção, embora a simbologia da mulher e o vermelho permaneça intacta. são cenas de trabalho. e isso é impressionante (desculpem-me usar a palavra mais uma vez, mas foi exatamente assim que eu e Tatupai ficamos: impressionados. vagamente, eu lembrava do nome dessa artista, mas nunca tinha visto uma exposição. daí termos ficado encantados de verdade). não é, portanto, apenas a metonímia das mãos. todo o corpo trabalha nas cenas de Liliana Porter. obras deveriam, portanto, ser construídas. mas a construção são ruínas. cacos de objetos, fios pretos e marrons desalinhados, objetos tombados, a  foice e o martelo, os soldados em sentinela; tudo contribui para a sensação de que o trabalho do homem, mais do que deixar obras inacabadas, produz, de fato, o aniquilamento. a demolição, a ruína, não é posterior; está já na origem do gesto. desalinha-se, assim, um dos maiores mitos modernos: a força de trabalho que constitui a dignidade do homem. que dignidade? que homem?... para as perguntas essenciais, é um pulo: quem somos? o que fazemos? o que queremos?  
*
*
(para as fotos terem ficado boas, precisaríamos de um tripé, para dizer o mínimo. mas eu e Tatupai fizemos várias tentativas. e resigno-me em dizer que as deles ficaram sempre melhores que as minhas)

 

1 Palavrinhas:

Anônimo disse...

Milena, não sei que fotos são suas ou quais são do Tatupai, só sei que as fotos permitem experimentar, lógico que direcionados pelo seu olhar e ou pelo seu desenho na escritura, mas sim, fotografia e escrita transmitem o sentimento e a percepção, o espírito da obra que nos apresenta.