domingo, 11 de maio de 2014

Paris, para dizer

(fotos após o texto).
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vou ter que dispersar ainda mais o tempo. tenho vontade de escrever sobre a Croácia, onde estive por uma semana. lá, sem nenhum tempo para a internet. os dias foram cheios, intensos e bonitos. a hospitalidade foi absoluta, generosa e rara. contarei depois, promessa.

dispersar o tempo porque agora estou em Paris, na casa de minha amiga Marie, e tenho muita vontade de escrever. desde o início, esta viagem foi construída sob o signo da amizade, do encontro. fui a Croácia por causa de convite feito pelo Valdir, que há muito tempo espalha sua generosidade sobre nós, fazendo com que sejamos convidados onde jamais nos chamariam sem a confianca que têm nele. e fui a Croácia com Mariamada, minha amiga e companheira de viagem de toda uma vida. E depois, ia encontrar meu irmão, que mora na Itália, em Paris, a cidade que tanto amo e onde mora Marie. tudo tão bonito, que custei a acreditar. mas tudo foi se fazendo aos poucos. e agora, eis-me aqui.

não deu certo mano vir. finalmente, seu caminho caminha, por mais que ele demore a ver. e eu fui assaltada assim que pus os pés em Paris, na volta da Croácia. levaram minha máquina fotográfica, a lente 50mm (e meu fetiche de aprender finalmente um pouco da técnica da fotografia), o tablet do Tatupai, e as tres formigas que lá habitavam, minha lapiseira de cinco anos... e sim! as coisas são coisas, mas são também nossa história, e por isso dói um pouco. ainda mais com meu histórico. não é fácil ter sido assaltada já nove vezes. não conheco ninguém que tenha ao menos se aproximado deste número!! mariamada teve que ser o suporte do meu desespero nas horas iniciais. o ladrão, assim, levou também nosso tempo e nossa alegria.

mas o que há de intrigante e belo no tempo é que ele passa. e traz a paz para continuar. o sorriso outra vez. os encontros se sobressaem. o meu encontro com Marie. meu encontro com Paris. na tarde que nos sobrou, eu e Mariamada saímos caminhando sem rumo, mas em volta dos lugares que mais amo por aqui. As seis da tarde, éramos mais umas sentadas no calcadão do Beaubourg, admirando esta estranha construcão de ferros e canos onde passei longas tardes, ora estudando, ora fugindo do estudo, mas aprendendo uma porção de coisas sobre a vida e meus gostos. foi bonito. daquela beleza que só a amizade pode explicar.

e foi assim que, na segunda, Mariamada tendo partido, como uma figura de novo triste, saí novamente caminhando rumo ao Beaubourg. saí de lá apenas as 23h, cansada, mas feliz. caminhei longas horas pelas salas de arte moderna, agora completamente reorganizadas, com uma nova maneira que me pareceu querer ser mais justa com a arte de todo o mundo. uma tentativa de fuga do que facilmente passamos a chamar - como que em forma de denúncia - de eurocentrismo. os especialistas devem dizer que ainda é insuficiente. eu, fragilizada, amadora, emocionei-me diversas vezes. ora por reencontrar um quadro, ora por encontrar algum que me parecia inimaginável antes estar lá - como eu na Croácia há apenas alguns dias.

na outra sala, uma belíssima exposicão de Cartier-Bresson. uma exposição que segue a linha do tempo e, por isso mesmo, explicita os diversos momentos deste grande fotógrafo. amadora, pensei que a forma, nele, teve muito mais longevidade do que seus interesses, que mudaram no decorrer do tempo.

desde terça, estou aqui na Marie. espero dizer tudo com tempo. os dias têm sido bonitos, embora chova vez ou outra lá fora. sempre soube que seria bom voltar em Paris. E que, de algum modo, eu me sentiria em casa. sim, em casa. não exatamente porque morei aqui, mas porque aqui reconheço tudo que gosto. quanto mais ando e vejo, mais tenho a certeza de que este é o caminho para que a vida tenha realmente sentido, para que não sejamos devorados pelos dias, pelas coisas vãs que mancham os dias.
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