quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

aqui um pouco mais.


passei o mês de janeiro sem fazer nada - nada da lei da utilidade, da responsabilidade. parte do mês fui visitar meu amigo Binho - e mostrar um pouco da Sampa que eu amo para o Poeminha. foi bonito. bem bonito. passeamos de mãos dadas todo o tempo. ora de metrô, ora de táxi, ora a pé, fui lhe dizendo por que amava Sampa. fomos a um tanto de lugares - eu e ele. zoológico hopi hari exposição do salvador dali do ron mueck castelo rá-tim-bum livraria cultura teatro showzinho comprinhas. às vezes, encontramos alguns amigos (ele e Maria Teresa - tão bonitos, ele apaixonado pela Lu, irmã de Carlinha; e nós, meio-dia em ponto, a conversar com aquela senhora tão maravilhosa naquela longa fila, e naquela outra a esperar o Emerson, nós a visitar a Lan,  e o tio e os primos.....). às vezes, foi tenso. em casa a liberdade é sempre tão maior. é sempre uma tensão o confronto do olhar do outro ante uma criança. é tanta adulteza no mundo que, às vezes, eu emboto todo o meu olhar. mas o bonito que foi não há como retirar. estar ali com Binho e poder conversar com Carla e poder ouvir a Lu e poder sentir os silêncios de Clara, foi bonito.  aprendi um tanto de mim e aprendi um tanto deles - e isso é tudo.

mas quando voltei, ainda estava com o mesmo olho embotado do fim do ano passado. como este rato no jogo de xadrez. precisava parar. precisava de algum hiato que pudesse me salvar de mim mesma. e dos outros. vi que não podia começar a pôr em dia todo o trabalho já acumulado. sempre esta crise. sempre este não saber o que faço com a universidade.  minha amiga Mariamada já me viu tantas vezes neste mesmo lugar - nesta vontade de parar, de saber viver outra vida. e sabe que eu sempre retorno. gosto, faço, me empolgo. mas tem horas que fico "inchada", como uma adulta que não se conforma de ter perdido a criança que nunca foi: evento pra organizar, aulas para ministrar, trabalhos de orientandos para ler, artigos pra escrever e mais uma infinidade de pequenas coisas... tudo isso me parece tão-sem-sentido às vezes. e eu me sinto tão pequena. fico sem saber onde começa minha vida pessoal e termina a profissional. tem horas que vira tudo trabalho - por mais bonito que seja. daí, eu acato estas pequenas crises. e com elas respiro. vou bem ali ------ meus hiatos. acho que morreria se eles não existissem. ou, tirando o excesso do drama, não me acharia mais. nem por excesso, como na mamografia que fiz nestes dias. este apertar os peitos, senti-los contra a laje fria da máquina. e sair de lá, dissecada, radiografada. e ainda sem mim.

em dezembro, eu estava assim, com uma cartela de tarefas. não via como parar. e aí chorei no ônibus vindo de Porto. E aí chorei outro tanto de vezes. e aí comecei a ser dada a solidões. ou passava os dias tentando "colocar em dia" os trabalhos. ou estancava aquelas lágrimas todas ---- que vinham de um tanto de lugares. estancar. cortar a pulso. escolhi a segunda opção. e li dez romances desde então. ora na rede - a que balança, ora recostada na cama - a que tem a melhor luz. e verti lágrimas por outras dores além das minhas. deixei passar por mim histórias outras - tão mais grandiosas, tão mais sublimes que a minha. e me deixei carregar. deixei deixei deixei ---- assim, toda a luz, mesmo que não vissem, que eu não visse, que não dessem importância, que eu mesma não desse importância. deixei deixei e senti um tanto de sentidos.

e agora, espero estar pronta para voltar. voltar com mais solidez. voltar com mais atenção ao que há no resto do tempo que é preciso criar. agora, é a prova dos noves. agora, é um ano que está no início. agora, é uma vontade feita de erros, de desconcertos, de precariedades. 
:
:
:
:
e lá, comprei uma nova máquina fotográfica. cumpri a promessa de só comprar outra depois de pagar a que me foi roubada em Paris. e desta vez, investi ainda mais alto ---- como uma senha para investir ainda mais naquilo que me retira de todo este turbilhão da produtividade, embora, às vezes, seja tão bonito. como este momento:::: no meio da tarde, últimas páginas de O manual dos inquisidores, vejo o email e está lá a equipe da revista anunciando que saiu o número da revista com nosso artigo --- e eu lembro de como ele foi escrito, de que forma eu e Lili pensamos sobre literatura brasileira contemporânea, de como vamos construindo este diálogo::: ela, com um forte poder conceitual, com uma memória poderosa; eu, não sei. mas diálogo, sim. e tive que, dessa vez, dormitar um pouco mais. dormitar um pouco mais entre a alegria e a alegria. 
.
.
.

Categories:

0 Palavrinhas: